Cinco pães e dois peixinhos
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Cinco pães e dois peixinhos

Anselmo Lima por Anselmo Lima
12/11/2025
Jo 6:5-7: "Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Felipe: Onde compraremos pães, para estes comerem? Mas dizia isto para o experimentar; pois ele bem sabia o que estava para fazer. Respondeu-lhe Felipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco."

Entre os milagres registrados, este talvez seja o mais frequentemente pregado, pois carrega um simbolismo tão rico que, a cada ministração, sempre haverá algo novo a ser revelado pelo Espírito. O relato não se limita apenas ao versículo 7, mas creio que, por ora, será suficiente avançarmos até o versículo 27.

Primeiramente, precisamos compreender que aquelas multidões não estavam ali por acaso. Elas não foram simplesmente ver Jesus como quem aparece do nada. Na verdade, aquela multidão era fruto do que haviam presenciado: os sinais que Jesus realizara. Como está escrito em João 6:2 “Seguia-o uma grande multidão, porque viram os sinais que fizera sobre os enfermos.”

Dito isso, surge agora uma grande demanda a ser suprida: alimentar essa enorme multidão, pela qual Jesus se compadeceu. Eles o seguiam há alguns dias, e como não havia lugar onde se pudesse comprar mantimentos, suprir essa necessidade tornou-se algo extremamente urgente. Entre eles havia pessoas de diversas faixas etárias, idosos, crianças, entre outros. Se Jesus os mandasse embora sem alimentá-los, certamente muitos desfaleceriam no caminho de volta para suas casas.

A pergunta que Jesus faz a Filipe é interessante, pois é legítima. E a resposta, por sua vez, é igualmente coerente, sincera e sensata. É exatamente o que qualquer pessoa ponderada diria. Mesmo alguém de fé não tem como conhecer, de antemão, os planos de Deus. Precisamos nos conscientizar de que, ainda que houvesse disponível duzentos denários, o equivalente a aproximadamente duzentos dias de salário disponíveis no caixa, ou mesmo que fosse possível arrecadar esse valor entre o próprio povo, não haveria onde comprar alimento suficiente. E, mesmo que houvesse onde comprar, devido à quantidade de pessoas presentes, nem todos receberiam uma porção. O texto é claro ao afirmar que, mesmo com esse recurso, alguns não receberiam sequer um pouco.

E então, aparece André com uma informação “nova”: João 6:9 “Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tanta gente?” Sinceramente, eu imagino Filipe ouvindo isso e pensando: “Você só pode estar brincando comigo a essa hora do dia!” Porque, convenhamos, é exatamente isso que qualquer um de nós diria numa situação dessas. Como homem, eu certamente responderia do mesmo jeito: “Cinco pães e dois peixinhos? Para essa multidão toda? Tá de brincadeira, né?”

Pois bem, o que o texto nos mostra é que não havia uma solução humanamente viável. Aos olhos da razão, era impossível resolver aquela situação pelos meios comuns. A saída mais fácil seria dispersar as multidões, permitindo que cada um buscasse suas próprias soluções. Em outras palavras, seria mais simples dizer: “Olhem, nós não pedimos que vocês viessem nos seguindo. Não temos como alimentar todos vocês. Portanto, por gentileza, procurem seus próprios suprimentos e, se quiserem continuar nos acompanhando, estejam mais preparados da próxima vez.” 

No entanto, esse não era o plano de Jesus, conforme a biblia diz: Is 55:8-10: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come,"

Então Jesus ordena que os discípulos instruam o povo a se assentar. Essa posição remete à espera, à paciência diante da provisão de Deus. E não por acaso, eles se assentam sobre a grama. Essa imagem nos leva diretamente ao Salmo 23:2-3: “Ele me faz repousar em pastagens verdejantes e me conduz a águas tranquilas; restaura-me o vigor. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.” A atitude de se assentar é, portanto, um gesto de confiança. É como se o povo dissesse, mesmo sem palavras: “Estamos aqui, olhando para nosso Pastor, esperando o que Ele vai fazer.”

E justamente o que Jesus faz é dar graças pelos cinco pães e distribuí-los. Algumas versões trazem a ideia de que Ele os entregou aos seus discípulos, o que está totalmente de acordo com os relatos de Mateus 14:19, Marcos 6:41 e Lucas 9:16. Porém, neste relato específico, temos a impressão de que é o próprio Jesus quem está distribuindo. Ou seja, o ato é o mesmo, e o fato também é o mesmo. Isso nos conduz à verdade expressa em Mateus 10:40: “Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou.” 

Assim, seja pelas mãos de Jesus ou pelas mãos dos discípulos, a provisão vem do mesmo lugar: do Pai, por meio do Filho.

Da mesma forma, Jesus faz com os dois peixes ou melhor, os dois peixinhos. E o texto original traz um detalhe curioso: “tanto quanto queriam”. Ou seja, foi praticamente um rodízio celestial de peixe e pão. Doze garçons passando com as bandejas. Esses dois peixinhos carregam um simbolismo profundo. Muito provavelmente eram peixes secos ou conservados em salmoura, porque, convenhamos, se fossem frescos, já teriam estragado no meio daquela caminhada. E sejamos honestos: dois peixes, uma quantidade quase simbólica. Pelo tamanho, eu não arriscaria dizer que eram sardinhas… talvez até duas pititingas! E ah, como eu amo uma pititinga frita, crocante, douradinha, daquele jeito que só quem já comeu sabe.

Esses dois peixes carregam em si a simbologia da provisão humana, aquela que o Senhor nos concede por meio natural, como os recursos disponíveis na criação. São dádivas que, embora venham de Deus, exigem preparo, cuidado e armazenamento para que não se percam. É a provisão que nos ensina a administrar, preservar e reconhecer que até o que parece simples é fruto da graça divina. Verdadeiramente, o foco central que enxergo não está nos peixes, mas claramente no pão. É sobre ele que Jesus quer nos ensinar algo profundo, como começa a dizer em seguida: João 6:12 “E quando estavam fartos, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.”

Temos aqui duas vertentes a considerar, ou seja, duas linhas de raciocínio que são verdadeiras e se complementam:

• Na passagem de João, parece que não sobraram peixes, apenas pão.
• Já no relato de Marcos, por exemplo, é mencionado que sobraram tanto pães quanto peixes.

Sabemos que, quando nos deparamos com esse tipo de diferença entre os relatos, que à primeira vista podem parecer contraditórios, trata-se, na verdade, de uma questão de revelação. O foco não está na divergência, mas sim no propósito e na audiência para a qual cada texto foi escrito. Cada evangelho carrega uma ênfase específica, revelando aspectos distintos da mesma verdade, conforme a intenção do Espírito ao inspirar cada autor.

Com base nisso, não é incorreto afirmar que, para João, as sobras dos peixes não tiveram tanta relevância. O texto joanino não menciona a sobra dos peixes, mas também não a exclui de forma objetiva, apenas não a cita. Isso reforça a ideia de que cada evangelista enfatiza aspectos diferentes do mesmo evento, conforme a revelação recebida e o propósito específico de sua escrita. João, ao destacar apenas os pães, parece querer chamar atenção para o simbolismo do pão como provisão espiritual, preparando o terreno para o discurso que virá a seguir sobre o “pão da vida”.

Quero destacar alguns detalhes que tendem a se perder numa leitura rápida, mas que são de extrema importância para que possamos ruminar ao máximo a vida do Senhor. São nuances que, à primeira vista, podem parecer simples, mas carregam revelações preciosas para quem se dispõe a meditar com um pouco mais de atenção. Repare que o texto diz: "E quando estavam fartos" então Jesus manda os discipulos recolherem os pedaços que sobraram para que nada se perdesse.

Bom, pelos relatos dos outros evangelhos, dá pra entender que a hora do almoço já tinha passado faz tempo. Ou seja, depois de ouvir Jesus e testemunhar suas maravilhas, o povo estava com o estômago gritando, e não era de emoção, era de fome mesmo! Imagina milhares de pessoas ali, maravilhadas com os ensinamentos, mas ao mesmo tempo pensando: “Glória a Deus, mas será que vai ter um lanchinho?” Talvez o semblante de alguns já fosse algo impossível de esconder. Havia olhares perplexos diante das maravilhas que viam e ouviam, mas também rostos desfalecidos pela fome. E Jesus, que possuía discernimento espiritual, sabia exatamente da necessidade que se espalhava em larga escala entre aquela multidão. Ele não via apenas rostos; Ele via corações. Não apenas a admiração, mas também a fraqueza. E, como bom pastor, não ignorou nenhum dos dois.

A provisão que Jesus traz não é “meia boca”, é além das expectativas humanas. Do mesmo modo que Ele percebeu a fome, também percebeu a satisfação: “E quando estavam fartos…”Ah, eu peço a Deus que eu nunca me farte do alimento do Senhor. Porque a característica de quem está farto é, simplesmente, rejeitar. E eu não quero rejeitar nada que venha d’Ele. Dá-me mais fome, mais sede, mais dependência de Ti, meu Senhor. Que eu nunca me acomode, nunca me satisfaça ao ponto de parar de buscar. Que o meu coração esteja sempre faminto pela Tua presença.

Uma vez fartos, os "garçons", os doze, cada um com seus cesto acabam de recolher a sobra, e os cestos cheios, rapidamente me levam a pensar:

O pão foi suficiente para todos. Todos ficaram saciados, comeram à vontade, como num verdadeiro rodízio, onde se pode repetir quantas vezes quiser. Nada se perdeu. Os doze cestos recolhidos simbolizam a provisão completa: não apenas para as doze tribos de Israel, mas também para todos os povos. A abundância não era apenas física, mas principalmente espiritual. Assim como José, que é uma figura (ou tipo) de Cristo, foi rejeitado pelos seus irmãos, vendido por prata, humilhado e, por fim, tornou-se salvador, não apenas de Israel, mas também das nações. Da mesma forma, Jesus é o pão que desceu do céu, suficiente para todos, judeus e gentios, sem distinção.

O relato prosegue dizendo que: Jo 6:14: "Vendo, pois, aqueles homens o sinal que Jesus fizera, diziam: este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo." 

Portanto, vamos dar um salto direto para o versículo 26, porque, se não fizermos isso, acabamos entrando em outra demanda de milagre que pretendo me debruçar em outra oportunidade… E olha que milagre é o que não falta por aqui! risos.

Jo 6:26: "Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos fartastes."

A multidão ainda está “caçando” Jesus por onde quer que Ele vá. Basta uma leitura dos versículos que pulamos para perceber isso. Mas o que chama atenção é a resposta do Senhor, que aponta para a continuidade do que foi realizado na multiplicação. Vejamos que riqueza: “Me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos fartastes.” Ora, o pão que comeram não foi um sinal? Afinal, no versículo 14 está escrito: “Vendo, pois, aqueles homens o sinal…” Que sinal? A multiplicação dos pães e a sobra dos doze cestos, trata-se de (o) sinal. Mas o que Jesus está dizendo é que eles não vieram por causa disso. Vieram porque o pão que comeram os saciou. E não foi como um pão de qualquer padaria, nem como um simples pão de cevada, que, aliás, é mencionado em Números 5:15 como oferta pelo ciúmes, (também não irei entrar nessa questão, quem lê entenda). Foi uma saciedade que eles jamais haviam experimentado. Era um pão com sabor de eternidade, com peso de revelação, com presença de Deus. E isso, mesmo sem entenderem completamente, os atraiu.

Então o Senhor acrescenta: Jo 6:27: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois sobre ele, Deus, o Pai, imprimiu seu selo."

É o mesmo que dizer: vocês costumam se desgastar pelo alimento da terra, aquele que precisa ser seco ou colocado no sal para ser preservado. Esse alimento perece, acaba, não sobra, não é suficiente. Mas o pão que Eu lhes dei antes… ah, esse pão alimentou vocês de forma diferente. Vocês receberam apenas um sinal, e mesmo assim ficaram saciados. Eu tenho muito mais do que doze cestos para lhes dar, tenho uma comida que permanece para sempre. Não é necessário sal para preservá-la, porque é essa comida que preserva vocês, e não vocês a ela.

Ah, irmãos, quando somos convencidos pelo Senhor de que é dEle que precisamos, de que é somente por Ele que vivemos, e que nossa dependência dEle é uma necessidade que precisa ser maturada, então Ele mesmo nos dará de Si, para que comamos da sua mesa e nos saciemos nEle. Não será uma saciedade que nos fará rejeitá-Lo, como quem recusa uma simples comida quando está de estômago cheio, mas uma saciedade que nos induz a buscar mais e mais dEle. O Senhor nos alimenta de uma forma tão profunda que não o buscamos apenas por estarmos alimentados, mas por estarmos à mesa com Ele.

A minha oração é que esta meditação alcance em você um sincero despertar para a vida de dependência do Senhor. Uma dependência que não é marcada por sufocos, nem por altos e baixos, nem por aquela ansiedade que nos faz roer os dentes esperando ver o agir de Deus. Mas, sim, por uma confiança tranquila de que é Ele quem trará o necessário para nos alimentar hoje.

Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas.
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Salmo 91 (Verso 1)
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Salmo 91 (Verso 1)

Anselmo Lima por Anselmo Lima
08/11/2025
Salmo 91:1
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará.

Este salmo é um cântico que transmite confiança em Deus como nosso protetor. As expressões "esconderijo" e "à sombra" evocam um refúgio seguro, um lugar acolhedor onde encontramos paz e proteção.

É importante compreender que estamos lidando com uma linguagem antropomórfica, ou seja, o uso de termos humanos, tanto físicos quanto emocionais, para descrever Deus. Esse recurso tem como objetivo tornar a compreensão de Deus mais acessível aos leitores. Dito isso, precisamos aprofundar nosso entendimento sobre o que significa estar no esconderijo do Altíssimo e sob à sombra do Todo-Poderoso.

No texto original hebraico, a palavra usada para "esconderijo" é cether, que remete a um lugar secreto e protegido. Trata-se de um ambiente disponível, embora pouco conhecido, cuja principal característica é a segurança. Essa imagem também sugere a ideia de viver ali.

É justamente esse "viver ali" que o texto propõe ao afirmar: "aquele que habita". É como se o autor estivesse nos revelando que é possível habitar de forma real nesse lugar. Não se trata de um texto meramente alegórico ou poético, mas de um ensinamento sobre uma realidade espiritual concreta.

O ambiente que o salmista chama de "esconderijo do Altíssimo" revela não apenas um lugar de proteção, mas também nos apresenta uma segunda característica singular e profundamente espiritual: estar "à sombra do Todo-Poderoso". Essa expressão não se refere apenas a proximidade física, mas simboliza intimidade, cobertura e comunhão contínua com Deus. Estar à sombra do Todo-Poderoso é também desfrutar da segurança que emana da Sua Pessoa, um privilégio que só é possível para aqueles que habitam nesse lugar secreto. Trata-se de uma condição espiritual que transcende o entendimento humano e convida o crente a viver sob a influência direta do poder divino.

Embora muitos entendam que se trata da mesma coisa, apresentada com uma dualidade didática, não é assim que compreendo. A meu ver, são dois elementos de uma mesma realidade, ou seja, duas percepções distintas, porém interligadas. É como se estar "à sombra" fosse uma extensão natural de "habitar no esconderijo", revelando uma progressão dessa realidade espiritual.

Em outras palavras, "habitar no esconderijo" não significa, necessariamente, estar sob "à sombra". No entanto, estar sob "à sombra" é o resultado natural de habitar nesse lugar secreto. Uma analogia simples seria imaginar que Deus se aproxima desse ambiente e, ao fazê-lo, projeta Sua sombra sobre o salmista. Que é exatamente uma manifestação de Sua presença, cuidado, proteção e descanso.

Com base nessa compreensão, e à luz do Novo Testamento, podemos vislumbrar com mais precisão o que Cristo quis ensinar ao dizer:

Jo 17:20-21: "E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste."

Agora, esse lugar secreto é plenamente revelado por meio da cruz de Cristo, tornando-se acessível àqueles que atendem ao chamado. Esse Caminho conduz à Entrada, e a Entrada conduz à Vida. Trata-se de uma ascensão espiritual revelada por Cristo, que se apresenta como o próprio Caminho, a Verdade (entrada) e a Vida. Nele, o mistério do esconderijo do Altíssimo é desvendado, e a comunhão com Deus se torna uma realidade viva e contínua.

Creio que nem mesmo o salmista tenha experimentado, em sua totalidade, a realidade espiritual que estava transmitindo. Acredito, sim, que ele teve uma experiência genuína, mas de forma momentânea e limitada, pois o acesso pleno ainda não havia sido revelado. Aquilo que ele descreve com tanta beleza e profundidade aponta para uma dimensão que só se tornou plenamente acessível por meio da obra redentora de Cristo.

Essa é uma realidade espiritual já estabelecida, mas acessível apenas àqueles que entram por meio do sacrifício de Cristo e respondem ao convite do evangelho da paz. Ninguém pode alcançar essa dimensão de forma verdadeira, senão pela Porta das Ovelhas. Cristo é o único que pode nos conduzir ao lugar secreto. E é sob Ele, sob Sua autoridade e graça que acessamos "à sombra do Todo-Poderoso". Nessa sombra, somos completamente envolvidos por amor, perdão, salvação, descanso, paz e eternidade.

É nele que encontramos a plenitude do descanço, pois é Ele quem nos convida"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei." Mt 11:28.

O salmista não viu o Messias encarnado, não presenciou a obra da cruz, mas creu firmemente na promessa. Pela fé, ele pôde contemplar, ainda que parcialmente, essa realidade espiritual. No entanto, nós já vivemos sob a plenitude dessa revelação: tudo está consumado! O véu foi rasgado, o Caminho já está pavimentado, a Porta está aberta, e a Cruz tornou-se o nosso lugar de descanso, sob essa sombra sim, estamos seguros. O que antes era espectro e figura, agora é acesso real, uma comunhão viva com Deus por meio de Cristo. É a projeção de Cristo (à sombra) sobre nós que nos dá plena certeza do descanso e paz com Deus.

Esse é o convite do evangelho da paz. A reconciliação com Deus, a paz verdadeira que escede todo o entendimento, que só pode ser encontrada n'Ele. É um chamado para entrar enquanto a porta da graça ainda está aberta, acessível a todos os que creem. Enquanto essa porta permanece escancarada, há esperança, há perdão, há vida. Mas é preciso atender ao chamado, pois o tempo da graça não estará disponível para sempre.

Portanto, vinde e vede!
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Entre vós não será assim
Reflexões

Entre vós não será assim

Anselmo Lima por Anselmo Lima
07/11/2025
Lc 22:27-28: "Pois qual é maior, quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vós como quem serve. Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações;"

A riqueza desta passagem é realmente extraordinária. Tão necessária para a compreensão em nossos dias quanto foi para os ouvidos daqueles discípulos. Podemos perceber claramente o princípio da humildade e o coração do Senhor em servir, ensinando de forma tácita aos seus discípulos a fazerem o mesmo. Ele, sendo aquele que estava à mesa. O único verdadeiramente digno de ser servido, se coloca como quem serve, abrindo mão de seu direito para ser o maior exemplo da humildade. 

Exercendo o papel de genuíno mestre. Sem hipocrisia, imposição ou falsidade, mas da forma mais didática possível: pelo exercício da prática e da observação. Foi justamente o que ele ensinou anteriormente, ao dizer: 

Mt 20:27-28: "e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos."

Jesus conhecia a inclinação humana de seus discípulos, marcada pela mentalidade comum de buscar ser o melhor, o primeiro, de ser reconhecido como destaque e até como um prodígio.

Nos tempos de Jesus, o sistema de ensino rabínico baseava-se em uma relação pessoal entre mestre e discípulo. O discípulo não apenas aprendia palavras, mas buscava imitar a vida, os costumes e o caráter do mestre. O objetivo final era tornar-se como o mestre, ou até como possível sucessor. Nesse contexto, é possível perceber que havia diferentes níveis de prestígio entre os discípulos. Alguns eram mais próximos e confiáveis, outros se destacavam por sua capacidade de interpretar a Torá, e havia ainda aqueles que se tornavam futuros mestres reconhecidos, perpetuando o ensinamento de seu rabi.

A cultura judaica do período valorizava muito a honra pública e o status religioso. Os fariseus, por exemplo, gostavam de “...os primeiros lugares nas sinagogas e as saudações nas praças, e de serem chamados ‘Rabi’ pelos homens.” Mateus 23:6-7."

Havia, portanto, uma busca natural por reconhecimento, especialmente entre aqueles que almejavam tornar-se mestres ou líderes espirituais. O problema não estava no reconhecimento em si, mas na motivação que o impulsionava. Porém, essa nunca foi a proposta do Senhor Jesus. Na verdade, parece que Ele caminhava na contramão do modelo tradicional de ensino dos mestres. Há situações em que a narrativa confronta os ensinamentos de Jesus com a conduta de seus discípulos, colocando ambos em xeque.

Seus discípulos não lavavam as mãos de forma cerimonial, não jejuavam, não guardavam literalmente o sábado, não permaneciam em um lugar fixo e, talvez o mais significativo de tudo, não escolhiam o mestre. Foi Jesus quem os escolheu!

Chegamos aqui a um ponto-chave. Ao afirmar isso, avançamos para o versículo 28: "Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações." Essa declaração de Jesus lança luz sobre o aspecto dos seus amigos mais próximos, os doze, aqueles que Ele de fato chamou para o apostolado.

Ao dizer: "Mas vós sois os que tendes permanecido comigo", Jesus nos transmite, de forma implícita, a ideia de que outros, ou melhor, muitos outros, não permaneceram com Ele, pelo menos não de maneira tão próxima.

"Joao 6:66 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele."

Somente aqueles que permanecem caminhando com o Senhor, mesmo após enfrentarem altos e baixos, mesmo depois de traí-lo, abandoná-lo ou até se escandalizarem, são os que, com o tempo, alcançam o amadurecimento real. Esse crescimento não vem da perfeição, mas da persistência em voltar, aprender, se arrepender e continuar seguindo, mesmo quando tudo parece contrário.

Para alguns, a maior dificuldade está em lavar os pés de outros, pois isso exige humildade, disposição para servir e renúncia ao orgulho. Para outros, o desafio está em se deixar lavar, em aceitar ser cuidado, em se permitir ser vulnerável diante de outro irmão. Há quem sinta um desconforto profundo ao se sujeitar a alguém, como se isso ferisse sua autonomia ou identidade. E há também aqueles que, ao se verem sob autoridade de outro, carregam esse lugar como um encargo sofrido, uma experiência que exige quebrantamento e confiança na condução de Deus.

Essas coisas ficam claras quando Jesus sinaliza a Pedro que Satanás pediu para peneirar não apenas ele, mas a todos. No entanto, Jesus destaca que intercedeu especificamente por Pedro, dizendo: "Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça." Isso é ainda mais impactante quando lembramos que Pedro negaria Jesus três vezes, mesmo após prometer fidelidade. E, mesmo assim, Jesus não o rejeita. Pelo contrário, Ele afirma: "E tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos." Essa fala revela não apenas a queda de Pedro, mas também a esperança de restauração e o chamado para liderar com humildade e graça. Pedro, mesmo negando, foi colocado para ser um instrumento de fortalecimento entre os demais.

Obviamente, não como o maior, o melhor, o mais brilhante ou o mais perfeito, mas como aquele que caiu, se arrependeu e foi levantado. Alguém que, de fato, se converteu e, por isso, está apto a servir aos outros e a Cristo. Sua autoridade não nasce da superioridade, mas da experiência da graça, da restauração e do compromisso renovado com o Senhor. Com esse exemplo, Pedro se tornou uma referência para muitos outros. Inclusive para mim e para você. Sua trajetória revela que não é a ausência de falhas que define um discípulo, mas a disposição de se arrepender, ser restaurado e seguir servindo com humildade.

Que o Senhor nos conduza pelo caminho da verdadeira humildade, aquela que agrada ao Pai, porque nasce do próprio coração dEle. Não é fruto de esforço humano, mas expressão da natureza divina em nós, moldada pela graça e pelo Espírito.

 
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O Senhor por meio dos enviados
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O Senhor por meio dos enviados

Anselmo Lima por Anselmo Lima
06/11/2025
Há algo profundamente marcante na fé do centurião — uma fé prática, lúcida e surpreendente. É evidente, pelo relato, que ele havia ao menos ouvido falar de Jesus e de seus feitos. No entanto, o que realmente impressiona é como essa fé se manifesta a partir de sua própria experiência de vida e da forma como ele compreendia o mundo. É nesse ponto que começamos nossa jornada: explorando uma fé que nasce não apenas do ouvir, mas do discernir — e que, por isso mesmo, maravilhou o próprio Cristo.

Mt 8:5-10: Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião, rogando-lhe, e dizendo: Senhor, meu servo jaz em casa paralítico, horrivelmente atormentado. Disse-lhe Jesus: Eu irei, e o curarei. O centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; mas somente fala a palavra, e meu servo será curado. Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. Jesus, ouvindo isso, maravilhou-se, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que não encontrei tamanha fé, não, nem mesmo em Israel.

Este é um relato profundamente significativo, pois revela uma expressão de fé tão autêntica que deixou Jesus admirado — ou, por que não dizer, surpreso. Ele chegou a afirmar que nem mesmo em Israel encontrou fé tão grande, ou seja, nem entre os de seu próprio povo se viu uma demonstração tão prática e convicta como a do centurião.

Prática e eficiente — prática porque descreve de forma explícita uma realidade vivida pelo centurião. Como oficial do exército romano, ele comandava ao menos cem homens, prontos para obedecer a qualquer ordem que lhes fosse dada. Essa obediência não se devia apenas à sua autoridade direta, mas também ao entendimento de que o centurião estava subordinado a uma hierarquia superior. Desobedecê-lo significava, na prática, romper com toda a cadeia de comando.

Basicamente essa hierarquia acima do centurião era composta da seguinte forma:

Tribuno: Comandava uma coorte, que era composta por várias centúrias. 

Legado: Era o comandante supremo de toda a legião. 

Centurião-Chefe (Primus Pilus): O centurião mais antigo e de maior patente na legião, responsável pela primeira centúria da primeira coorte. Ele tinha um papel de liderança significativo e era muitas vezes visto como um "coronel" moderno. 

Hierarquia abaixo do centurião:

Optio: O segundo em comando de uma centúria, abaixo do centurião.

O texto o retrata como um centurião — alguém plenamente familiarizado com o ato de obedecer e com a responsabilidade de comandar. Ele compreendia profundamente o significado de estar sob autoridade, assim como o de exercer liderança sobre seus soldados. Os centuriões detinham grande poder e eram conhecidos por sua disciplina rigorosa. Cabia a eles o treinamento e a condução das tropas, transmitindo ordens de maneira clara, objetiva e inquestionável.

Se tivéssemos apenas o relato do evangelho de Mateus, já seria algo extraordinário. A mensagem estaria clara, e o ensino que o Espírito Santo deseja transmitir seria plenamente compreendido. No entanto, como se isso não bastasse, o mesmo episódio narrado no evangelho de Lucas amplia ainda mais a compreensão, oferecendo maior riqueza de detalhes e profundidade ao ensinamento.

Lc 7:2-10: E o servo de um certo centurião, o qual era muito estimado por ele, estava doente, e à morte. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo. E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isto, Porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado. E por isso nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. E, ouvindo isto Jesus, maravilhou-se dele, e voltando-se, disse à multidão que o seguia: Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé. E, voltando para casa os que foram enviados, acharam são o servo enfermo.

Percebemos que, no evangelho de Lucas, a narrativa é significativamente ampliada. Agora, o centurião não se dirige pessoalmente a Jesus, mas envia, em seu lugar, os “anciãos dos judeus”.

Sabemos que esses anciãos eram homens de autoridade e sabedoria, líderes respeitados na comunidade, responsáveis por representar os interesses das famílias e dos clãs. Seu papel envolvia a condução da vida comunitária, a mediação de conflitos, a tomada de decisões relevantes e o aconselhamento aos governantes.

O relato de Lucas é particularmente intrigante, pois apresenta uma aparente contradição e, ao mesmo tempo, um elemento profundamente impactante: os anciãos judeus, representantes do povo, vão até Jesus para interceder em favor de um romano — um centurião.

Vamos primeiro esclarecer o aspecto “impactante” e, em seguida, abordar a possível “controvérsia”. O gesto dos anciãos judeus ao se dirigirem até Jesus revela a profunda estima que o centurião havia conquistado. Essa consideração não surgiu por acaso, mas foi fruto do amor genuíno que ele demonstrava pelo povo e da sua iniciativa em construir a sinagoga — um ato que evidenciava respeito, generosidade e compromisso com a comunidade.

Para compreendermos a aparente controvérsia entre os relatos de Mateus e Lucas, é essencial mergulhar um pouco na cultura do mundo antigo. Naquela época, era comum que uma pessoa enviasse representantes ou mensageiros em seu nome, e esse ato era entendido como uma extensão da própria presença. Ou seja, quando alguém falava ou agia em nome de outro, era como se o próprio emissor estivesse ali, pessoalmente.

Nesse contexto, o evangelho de Mateus afirma que o centurião “foi” até Jesus, o que deve ser interpretado de forma representativa. Mateus está transmitindo a essência do encontro — a iniciativa e a fé do centurião — sem se prender aos detalhes logísticos. Já Lucas, por sua vez, oferece uma narrativa mais detalhada, revelando que o centurião enviou intermediários, especificamente os anciãos dos judeus, para falar com Jesus em seu lugar.

Esse tipo de representação era perfeitamente natural na linguagem judaica e greco-romana do século I. Um exemplo paralelo seria o de um embaixador que fala em nome de um rei: mesmo que o rei não esteja fisicamente presente, é comum dizer “o rei disse”, pois o embaixador carrega sua autoridade e intenção. Assim, não há contradição entre os dois evangelhos, mas sim uma diferença de estilo narrativo — Mateus foca no significado espiritual do gesto, enquanto Lucas detalha o protocolo cultural envolvido.

É justamente aqui que quero provocar sua reflexão.

O que o centurião compreendeu, fruto de sua vivência e experiência, foi algo tão profundo que deixou Jesus maravilhado — uma fé que Ele próprio chamou de tosoutos “tão grande” fé.

A compilação dos relatos de Mateus e Lucas nos revela uma verdade que o Espírito Santo deseja comunicar — uma verdade que o centurião discerniu com muita clareza, mas que ainda é pouco vivida pelos próprios cristãos. Ele entendeu, naquele contexto, que a autoridade espiritual não dependia da presença física de Jesus, mas da convicção no poder delegado. bastava o comando verbal de Jesus. Essa percepção, raramente experimentada com profundidade, tem implicações diretas na vida cristã, especialmente no exercício do serviço ao corpo.

Avancemos para uma compreensão mais dinâmica sobre o que significa sermos comandados por Cristo. 

Vejamos o que Ele declara em Lucas 10:16: “Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza; e quem me despreza, despreza aquele que me enviou.”

Esse versículo confirma a mesma perspectiva de autoridade delegada que vemos no episódio do centurião. Ao cumprirmos o ide — a missão que Jesus nos confiou — em Seu Nome e sob Sua autoridade, estamos agindo como representantes diretos do Rei. Assim como o centurião compreendeu que uma ordem dada em nome de uma autoridade superior carrega o peso dessa autoridade, nós também, ao obedecer e agir conforme a Palavra de Cristo, estamos dizendo com nossa vida: “Basta uma palavra, e será feito.”

A diferença é que, agora, o Verbo já foi pronunciado. O comando foi dado: “Vão e façam.” O que resta é a obediência ativa, fundamentada na fé e na convicção de que, ao falarmos e agirmos em nome de Jesus, o céu se move em resposta, pois não pode ser diferente.
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DO CONFRONTO À LIBERTAÇÃO
Reflexões

DO CONFRONTO À LIBERTAÇÃO

Anselmo Lima por Anselmo Lima
06/11/2025
Jo 16:8: E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.

No original grego, a palavra traduzida como "convencer" carrega em sua raiz a ideia de uma exposição direta e incisiva — como alguém que aponta uma lança para evidenciar o erro e suas consequências, com o propósito claro de promover correção.

Uma pessoa só se dá conta da terrível escuridão espiritual em que vive (sua condição natural), quando Deus, de forma sobrenatural, lhe mostra a verdade. Nesse contexto, o Espírito Santo não convence como um mero acusador, mas como aquele que revela o que está encoberto pela cegueira — trazendo luz, discernimento e caminho de restauração. 

Enquanto a acusação deliberada traz consigo o peso perverso da condenação, a ação do Espírito se distingue pela clareza que revela, pelo confronto que transforma e pela verdade que conduz à libertação — muitas vezes evidenciada pelas próprias consequências da desobediência.

Por isso, torna-se evidente a centralidade da ministração da Palavra de Deus, pois é por meio da proclamação do evangelho e suas nuances que essa obra sobrenatural se realiza. É através do Evangelho que a verdade é revelada, os olhos são abertos e os corações são transformados.

Seja pela pregação ou pelo testemunho silencioso da vida e conduta de outros cristãos, o Espírito Santo continua a convencer — expondo corações à verdade. Uma vida moldada pelos ensinamentos de Cristo, revelada no falar, no agir e nas escolhas que refletem o evangelho, torna-se instrumento vivo por meio do qual o Espírito alcança aqueles que ainda não creem.

É importante compreender que, embora eu tenha aplicado o texto de forma mais individual, sua mensagem aponta para algo muito mais abrangente: uma ação do Espírito Santo por meio do corpo de Cristo. 

A Igreja, como expressão visível dessa ação, é chamada a ser instrumento ativo na revelação da verdade — denunciando, com graça e firmeza, a realidade de um mundo que se deleita no pecado, carece de justiça por rejeitar a soberania de Deus, e caminha rumo ao juízo. É por meio da Igreja de Cristo que o Espírito Santo revela, de forma direta e impactante, a verdadeira condição do mundo diante de Deus. Nesse sentido, a Igreja não é apenas uma comunidade de fé, mas um instrumento sobrenatural — um canal vivo por meio do qual o Espírito evidencia a rejeição do mundo à soberania divina. 

Ao proclamar a verdade do evangelho e viver segundo os padrões do Reino, a Igreja confronta o sistema que se opõe a Deus, denunciando o pecado, a ausência de justiça e a inevitabilidade do juízo. Sua presença no mundo é um testemunho contínuo da luz que expõe as trevas e do amor que chama ao arrependimento.
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Não diga - "Não me julgue", antes de ler isso:
Reflexões Mensagens

Não diga - "Não me julgue", antes de ler isso:

Anselmo Lima por Anselmo Lima
03/11/2025
Tg 4:11: 
Não faleis mal dos outros, irmãos. Quem fala mal de seu irmão ou o julga, fala mal da Lei e julga-a. Ora, se julgas a Lei, não és cumpridor da Lei, mas sim, seu juiz.

À luz deste versículo, e considerando o contexto dos versículos anteriores, podemos compreender com mais clareza que o ato de "julgar" é frequentemente mal interpretado pelos cristãos. Versículos como este são comumente utilizados como forma de defesa diante de alguma correção, acusação ou apontamento relacionado a erros, condutas ou estilos de vida que outros irmãos em Cristo identificam e, movidos por amor, desejam orientar ou corrigir.

A ideia transmitida por esse texto não é a de alguém que está exortando ou corrigindo com amor e responsabilidade, mas sim de alguém que pratica a maledicência — falando mal de outra pessoa diante de terceiros, como em uma fofoca ou algo semelhante. Trata-se, portanto, de um julgamento leviano, feito de maneira imprópria, e não conforme o padrão das Escrituras, que orientam a correção fraterna de forma direta e respeitosa, "olho no olho, ombro a ombro".

De fato, alguém que compreendeu os versículos anteriores e experimentou o que significa humilhar-se diante de Deus — alguém que tem buscado purificar-se, afligir o próprio coração, como quem vive um luto acompanhado de choro em busca de rendição ao Senhor — não poderia continuar agindo da mesma forma, mantendo atitudes de maledicência contra o próximo. Essa conduta não condiz com a Vida de Cristo, pois quem foi tocado por essa verdade é transformado em seu modo de pensar, falar e agir.

Essa é uma realidade da vida cristã que precisa ser vivida de forma autêntica e profunda — não apenas compreendida intelectualmente ou limitada à razão.

O caminho para que essa experiência se torne verdadeira e transformadora está justamente nos ensinamentos: "Submetei-vos, pois, a Deus", "Aproximai-vos de Deus" e "Humilhai-vos diante do Senhor". É por meio dessa entrega que Ele nos exalta — elevando-nos, amadurecendo-nos e conduzindo-nos a uma vida abundante em graça.

Gostaria de fazer uma breve observação sobre o que entendo a respeito da expressão "Ele vos exaltará". Não creio que, no contexto dos versículos de Tiago, essa exaltação se refira a algo terreno — como bênçãos materiais ou conquistas no âmbito secular. Ao meu ver, trata-se de uma exaltação muito mais profunda e valiosa: uma elevação espiritual, uma ascensão às alturas da graça e da maturidade em Deus.

Essa exaltação está diretamente ligada ao resultado do processo descrito em Tiago 4:6-10 — um caminho de humildade, rendição e aproximação sincera do Senhor.
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