ORAÇÃO NO ESPÍRITO, POR MEIO DO ESPÍRITO PARA DEUS
por Anselmo Lima
Como podemos pensar que é possível convencer Deus de alguma coisa?
Pois Deus é conhecedor de tudo, em todas as epocas, inclusive sabe o que vamos dizer, antes mesmo que as palavras saiam da nossa boca.
Será que o objetivo da oração é esse?
Tentar, com nossas palavras rebuscadas e nosso poder de persuasão, convencer Deus sobre algum assunto?
Hoje, acredito que não!
É mais coerente tomarmos a via da compreensão inversa e pensarmos da sequinte forma:
Sendo Deus amor e deseja nos abençoar com todas as sortes de bençãos espirituais, e também, com reflexo em nossas vidas terrenas, possamos desfrutar do seu favor com o que precisamos diariamente.
Então, a oração não tem como objetivo, um meio de convencimento para com Deus, pelo contrário, pela oração, somos alcançados pelo poder de Deus, para nos mostrar a nós mesmos, o que precisamos, de quem dependemos, o quanto precisamos ser quebrados, o quanto nossa relação com ele é verdadeira ou meramente interessada em seu poder e suas intervensões.
A oração, ao meu ver é um meio de nos descascar, ou melhor, "everter os gomos da laranja, depois de cartada ao meio".
É justamente esse o aspecto que quero meditar "apertar o fundo da laranja para virar os gomos para fora."
Se Deus não precisa ser convencido, simplesmente porque ele não necessita da sabedoria humana para decidir nada, Ele é o que É. Então porque que nós ainda nos esforçamos em rebuscar nossas palavras, as mais bonitas e coerentes, formando verdadeiros arranjos persualivos para que Deus nos ouça e nos atenda?
Porque somos tolos, simplesmente egocentricos e maus.
Tg 4:3: "Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois o que pedis, só quereis esbanjá-lo nos vossos prazeres."
Então, eu penso que a oração, na verdade, é um meio pelo qual o Senhor deseja nos conduzir, pelo Espírito Santo, a revelar quem realmente somos e aquilo de que verdadeiramente precisamos. Muitas vezes não sabemos o que necessitamos, mas o Senhor conhece exatamente nossas necessidades.
É por meio da oração que Ele quer nos guiar, uma oração alinhada com o próprio Deus, o Pai. Se olharmos para o texto de Tiago, perceberemos isso claramente: muitas vezes oramos, pedimos e não recebemos, porque pedimos mal. Essa má petição, acredito eu, refere-se ao pedir na carne, ao pedir para nossos próprios deleites, e não a uma oração de acordo com o coração do Senhor.
Uma laranja cortada ao meio, para extrair os gomos, apertamos o fundo da fruta para à frente. Assim também a oração deve expressar aquilo que somos por dentro. E isso só é possível pelo Espírito de Deus.
Acredito que a oração tem essa característica: um coração humilde na presença do Pai, para que a comunhão com o Senhor seja verdadeira, e não uma comunhão cheia de si mesma, de interesses pessoais ou desejos desalinhados com Ele. Esse tipo de oração é a que agrada a Deus, porque é dirigida pelo próprio Senhor.
Por isso é tão importante aprender a orar no Espírito, permitindo que o Senhor, através do Seu Espírito, nos conduza nas palavras, nos sentimentos e nos assuntos.
Se analisarmos, por exemplo, o coração da oração do Pai Nosso, quando o Senhor Jesus nos ensina a orar ao Pai, percebemos um trecho muito importante: “Seja feita a Tua vontade e não a nossa.” Isso porque a nossa vontade, quando não está alinhada com a vontade de Deus, é apenas uma vontade humana, desprovida da providência e do favor divino.
É claro que, em Sua grandeza e misericórdia, o Senhor até atende algumas orações. Mas a verdadeira oração é aquela que está alinhada com o coração do Pai. Essa é a oração que devemos buscar praticar. E aqui cabe uma observação: não se aprende a orar de fato; aprende-se a ser guiado pelo Espírito de Deus. Cada oração é única, distinta, nova. Caso contrário, seríamos como aqueles que repetem sempre as mesmas palavras e pensamentos. O próprio Senhor Jesus disse que não é pelo muito falar que seremos ouvidos.
Portanto, não se trata de insistir diante de Deus com as mesmas questões, ainda que isso não seja totalmente errado, mas sim de uma oração feita com fé, alinhada ao coração do Senhor. Essa, certamente, é a oração que Ele ouve e responde, muitas vezes de forma imediata. Afinal, se é o próprio Senhor quem nos conduz a orar de determinado modo, não faz sentido que Ele demore ou deixe de responder. Acredito que o Senhor deseja nos conduzir a essa percepção pelo Espírito Santo, para que em nós seja encontrado o mover da Sua voz. Uma voz que sabemos não ser fruto da nossa intenção, pensamento ou desejo, mas sim da direção do próprio Deus. É dessa forma que podemos alcançar o favor divino.
Muitas vezes nos perguntamos o motivo de certas situações, mas isso não cabe a nós. Somos seres espirituais vivendo neste mundo, e de certo modo estamos em desvantagem, porque nossa luta é espiritual. Existem seres espirituais batalhando contra nós, milhares, tentando impedir que nossa oração seja conduzida corretamente. Por isso somos atacados por pensamentos e setas malignas. É necessário, então, que estejamos em plena tranquilidade diante do Senhor quando nos dedicamos à oração. Foi também por isso que Jesus ensinou: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.” Mateus 6:6-7
Aqui posso ver aspectos importantes: estar no quarto, longe do barulho, das vozes, dos olhares e das recompensas humanas, que também é uma brecha para o orgulho do homem e consequentemente não grada a Deus. Não devemos ser como os fariseus hipócritas, que oravam em público para serem vistos pelos homens. Esses já receberam sua recompensa, mas não da parte de Deus.
A verdadeira oração é no Espírito. Não significa que seja sempre silenciosa, mas que é guiada pelo Espírito Santo. É Ele quem nos conduz nas palavras e nos motivos. Essa oração não busca o louvor dos homens, não se preocupa com a beleza das palavras ou com a força da argumentação, porque não é nossa intenção convencer a Deus. É o Espírito Santo nos mostrando nossa incapacidade e conduzindo-nos a crer mais no Senhor a cada palavra. A oração é um processo interno que muitas vezes não percebemos. Ela nos leva a uma realidade de vida com Deus que vai além de alcançar favores.
É claro que o Senhor nos favorece, porque é um Pai bondoso e misericordioso, que sabe do que precisamos antes mesmo de falarmos. Mesmo quando oramos sem à Sua direção, em nossa ignorância ou ganância, Ele sonda nossos corações e nos favorece, porque é misericordioso e amoroso. Lc 11:11: "Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra?"
Mas a intenção do Senhor é que compreendamos que a oração é uma ferramenta pela qual Ele deseja nos desnudar: arrancar nossas corrupções, nossa malícia, converter nossos maus pensamentos e caminhos para que andemos em Seu Caminho. Quantas vezes, em oração, saímos leves, como se um peso fosse tirado de nós. Quantas vezes somos quebrados, caímos em choro profundo, sem saber o motivo, pois é o próprio Espírito Santo nos moendo por dentro, mostrando nossas misérias e fraquezas.
O Senhor deseja nos conduzir por essas veredas, porém muitas vezes resistimos. Somos teimosos, como crianças malcriadas. Não porque o Pai nos tenha criado assim, mas porque insistimos em viver do nosso jeito. Nosso ego não quer perder. Ainda carregamos em nós o “Adão”, que deseja viver sua própria vida, e ser dono do seu próprio nariz, livre do Senhor. Adão precisa "morrer"!
Precisamos compreender o que significa morrer. Essa morte é a morte do ego, do “eu”, da minha vontade, dos meus desejos e da minha compreensão puramente humana, sem a graça de Deus. Essa pessoa precisa, de fato, desaparecer, Jo 3:30: "É necessário que ele cresça, e eu diminua”."
Até que isso aconteça de forma plena, estaremos sempre travando uma luta interior. É um processo lento, demorado, doloroso, mas absolutamente necessário. Quem deseja uma vida mais purificada diante do Senhor, uma vida santa e íntima com Cristo, precisa compreender essa realidade: a realidade do morrer, de se perder totalmente em Deus, de se perder na compreensão de Cristo.
O objetivo é que em nós não habite mais o “eu”, mas que possamos chegar a declarar, como Paulo: “Já não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim.” Esse é exatamente o processo pelo qual lutamos agora, se é que já compreendemos essa necessidade e se o Senhor já nos abriu o entendimento para perceber que somos incapazes de alcançar a Deus por nós mesmos. Enquanto estivermos vivos em nosso próprio ego, seremos imaturos, cegos, tateando na escuridão. Que o Senhor nos mostre, por meio da Sua Palavra e da comunhão, que precisamos nos render 100% a Cristo, sem reservas, sem limites, buscando morrer em todas as nossas vontades latentes. Esse morrer não pode ser temporário, de uma semana ou de um mês. É um morrer eterno, definitivo, que não volta a viver. Precisa ser enterrado de fato. Caso vacilemos, essas questões ressuscitam em nós, porque o pecado tem poder de trazer de volta aquilo que deveria estar morto. O “Adão” em nós sempre tenta retornar, contribuindo para a carne, que não quer se submeter. A carne não se converte, por isso a escritura diz em Rm 8:8: "Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus." e ainda tem Gl 5:17-18: "Pois o que a carne deseja é contra o Espírito, e o que o Espírito deseja é contra a carne: são o oposto um do outro, e por isso nem sempre fazeis o que gostaríeis de fazer. Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei."
Com o tempo, muitas questões que antes eram difíceis tornam-se mais fáceis pela comunhão com o Senhor, pela santificação e pela mortificação. Mas, mesmo assim, é necessária uma constante vigilância. A Escritura diz: “Aquele que está em pé, cuide para que não caia.” Ou seja, é possível cair, é possível vacilar. A vigilância precisa ser contínua, para que não sejamos enganados, pensando estar firmes quando, na verdade, estamos caídos. Muitas vezes achamos que estamos bem, mas no fundo estamos mal, enganando a nós mesmos. Jesus também disse: “Se a luz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas!” Esse discernimento espiritual é fundamental.
A vida com o Senhor deve ser contínua, sem interrupções. Não pode ser hoje estar bem e amanhã estar mal. É claro que, durante a caminhada com o Senhor, passaremos por desertos, mas precisamos compreender desde cedo que esse deserto não é de morte, e sim de amadurecimento.
Logo, é tão importante aprendermos essa ferramenta tão necessária que é a oração no Espírito, oração dirigida pelo Senhor. Trata-se de uma vida de intimidade tão profunda com Deus que somos guiados nas palavras, nos assuntos, em tudo provendo o próprio Senhor. É uma vida rendida, plena de Cristo, em que, é o próprio Espírito de Cristo quem nos conduz no que devemos pedir. Não se trata mais das minhas vontades ou necessidades, porque Deus já as conhece. Trata-se do Senhor nos conduzindo a pedir aquilo que realmente precisamos, aquilo que está no coração de Deus para nos conceder. Essa é a vida que precisamos buscar.
Não falo como quem já alcançou plenamente, mas como alguém que já vislumbrou essa realidade e percebeu que esse é o caminho, a direção do Senhor para a vida dos Seus filhos. Por isso, irmãos, compartilho sobre esse assunto: muitas vezes, nossas orações são egocêntricas. Por desconhecermos as verdades do Senhor, acabamos colocando Deus “contra a parede”, como crianças que puxam a barra da roupa da mãe ou do pai. O Senhor, em Sua misericórdia e amor, nos concede muitas coisas, mas não é essa a Sua vontade. A vontade de Deus é que amadureçamos, que tenhamos um coração simples como o de uma criança, mas sejamos homens e mulheres maduros no entendimento. E esse entendimento também vem dEle. Mas como crescer se não estamos dispostos a ler, ouvir e compreender? Muitas vezes queremos manter tudo como sempre foi, pedindo e clamando pelas mesmas coisas, sem resultados, porque pedimos mal. Algumas coisas o Senhor concede, mas outras não, porque pedimos de forma errada, segundo nossos próprios interesses, sem ouvir o que Ele realmente deseja nos dar e nos conduzir a pedir.
Que o Senhor nos mostre, dentro dessa compreensão, a verdadeira luz sobre esse assunto. É um tema denso, longo, com muitos textos que podem parecer contraditórios, mas não são. Creio que este é um aspecto importante, não o único, mas um fundamento que precisa ser retomado e realinhado na vida cristã. Que o Senhor nos abençoe e nos guarde em Cristo. Que Ele nos conduza à Sua própria vontade, fazendo-nos enxergar nossas mazelas, nossas fragilidades, nossas faltas e até nosso jeito ignorante de falar e perceber as coisas de Deus.
Permaneçamos firmes naquela palavra que diz: “A luz do Senhor vai brilhando, brilhando, até se tornar dia perfeito.” que sejamos conduzidos nessa maravilhosa luz, para que o dia perfeito chegue no tempo de Deus, segundo a Sua vontade, segundo os preceitos do Seu coração e segundo a necessidade que Ele vê em nós, não segundo aquilo que queremos, mas segundo aquilo que realmente precisamos.