A MORTE DO EGO PELA CRUZ
por Anselmo Lima
At 3:6:
Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, anda.
At 3:12:
Pedro, vendo isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade (conceito de religiosidade) o tivéssemos feito andar?
At 3:16:
E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.
Esses três versículos nos dão uma base sólida para compreender que é somente pelo Nome de Jesus que tudo se torna possível.
Ninguém melhor do que Pedro para ilustrar tão bem um homem transformado: antes orgulhoso de si mesmo, agora convertido e submisso à autoridade de Cristo. Sua vida nos mostra que não importa quão falhos ou impulsivos possamos ter sido, o encontro verdadeiro com Jesus é capaz de nos moldar e nos tornar instrumentos de Seu poder. Pedro, que antes negou o Mestre, tornou-se uma rocha firme na fé, testemunhando que a graça de Deus é suficiente para mudar qualquer coração e conduzi-lo à plena obediência.
Pedro oferece aquilo que possui: a promessa do Nome:
Jo 14:12-13: "Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai. E o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho."
Ele também ressalta que não foi por eles, nem pela vida piedosa que levam, que o milagre aconteceu. Não é por uma religiosidade ou espiritualidade em si mesma que tais operações se realizam, mas unicamente pelo poder do nome de Jesus. É claro que não estou dizendo que não devemos andar em santidade; porém, essa santidade, se não for conduzida por um esvaziamento do “Eu”, torna-se falsa, hipócrita e sem valor algum.
A verdadeira santidade nos conduz ao kenosis, que para nós significa a mortificação do ego e dos nossos atributos humanos. Em semelhança ao ato de Cristo, descrito em Filipenses 2:5-8: "Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus. Ele, existindo em forma divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte — e morte de cruz!"
Deste modo, e seguindo esse exemplo, nós, como discípulos, devemos buscar o mesmo sentir e pensar (entendimento): o de nos esvaziarmos de toda vontade própria, de toda dependência humana e excêntrica, e de qualquer meio de exercer interferência, por menor que seja, como se estivéssemos tentando alcançar algo de Deus. Como se Ele precisasse ser convencido de alguma coisa. Isso não seria graça, tampouco é o evangelho de Cristo.
Em outras palavras, devemos nos perder totalmente nEle. Esse “estar perdido” é justamente a plena dependência de Deus. Somente assim é possível experimentar a verdadeira plenitude da união com Ele. É pela graça recebida (entendida e crida) que somos conduzidos a essa dimensão.
Durante esse avanço, percebemos o quanto somos facilmente presos às nossas próprias intenções. São essas intenções que, uma vez expostas pelo Espírito, revelam o que de fato temos desejado, o quanto já morremos e, também, o quanto estamos dispostos a morrer.
A percepção de nossas fraquezas e incapacidades é um sinal positivo e necessário para avançarmos no poder de Deus. Todavia, enquanto essa percepção não se transformar em uma realidade espiritual, não poderemos experimentar plenamente os efeitos desse poder em nossas vidas. Quando essa verdade é comunicada em nosso íntimo, percebemos o quanto somos usurpadores da glória de Deus. Pois nos é claramente revelada a profundidade de nossas reais intenções. E muitas dessas intenções estão ligadas à busca da glória dos homens, e não da glória de Deus.
Ah, irmãos, como é necessário nos humilharmos diante de Deus e clamarmos para que Ele nos quebre por inteiro, conduzindo-nos ao mais profundo do nosso orgulho, a fim de nos curar.
É necessário nos perder nEle, sem restrições, pois a menor interferência de nossa parte acaba, sutilmente, se opondo ao Espírito de Deus. Quando agimos por vontade própria e não sob a unção do Senhor, colocamos nossos pés à frente dos de Cristo, avançamos diante dEle e retornamos à esfera do “eu”. Enquanto houver vestígios de ansiedade ou um agir inquieto, não poderemos colaborar verdadeiramente com Deus. A única forma de cooperar com Ele para o nosso avanço espiritual é nos perder totalmente nEle.
Para podermos dizer: “Mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda”, precisamos de fato possuí-Lo e, sobretudo, ser possuídos por Ele.
Você já se perguntou se realmente O possui? A resposta, normalmente, é: “Sim, eu tenho Cristo.” Mas já se perguntou se é possuído pelo Senhor? O Senhor o tem por completo? Ou ainda está vacilando entre dois pensamentos?
Essa é uma pergunta que nosso ego precisa responder. Contudo, ele só tem voz se ainda governa; e, se governa, é sinal de que Cristo não está reinando plenamente.