ASPECTOS DA VIDA CRISTÃ
por Anselmo Lima
2Co 12:9: "e ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo."
Ao lermos o início do capítulo 12 de 2ª Coríntios, percebemos que Paulo começa a relatar uma de suas experiências espirituais. Ele se coloca na terceira pessoa, justamente para não atribuir a si mesmo qualquer glória por esse acontecimento. Obviamente, o apóstolo compreende que suas experiências e revelações não são fruto de sua própria vontade, mas expressão da vontade de Deus. Elas existem para revelar-lhe as riquezas de Cristo e a essência da vida cristã e, eu diria, sobretudo para nos oferecer clareza, compreensão, esperança e direção no caminhar da maturidade.
Nota-se que, por duas vezes, ele insinua o “gloriar-me”. Contudo, ao analisarmos o contexto entre os versículos 1 e 10, percebemos que esse gloriar-se não provém de uma glória particular ou humana (glória de homem), mas, ao contrário, nasce da experiência da glória de Deus. Podemos confirmar, inclusive, que essa glória mencionada o conduz a encontrar prazer em suas próprias fraquezas, como fica evidente no versículo 10. Paulo relata a experiencia de ouvir da boca do Senhor "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza".
Ah, irmãos, muitas vezes, por desconhecermos os ensinos do Senhor, por não estarmos atentos à disciplina do Espírito ou por não darmos ouvidos ou até mesmo por não termos quem nos ministre, acabamos sofrendo prejuízos enormes.
Quantas vezes, após um período glorioso com Deus, repleto de graça, presença, plenitude e até experiências extraordinárias, nos sentimos vazios, frágeis e expostos ao pecado de maneira avassaladora. Nesses momentos, estamos enfraquecidos, sujeitos a todo tipo de impureza e, por não compreendermos o que isso significa, somos dominados por desejos que nos levam a desfalecer na fé e a cair no erro. Assim, acabamos pecando por simples ignorância.
Quero compartilhar o que tenho aprendido com o Senhor nesses períodos. Muitas vezes, esses momentos aconteciam logo após um dia de intensa comunhão com Cristo; outras vezes, surgiam depois de alguns dias. Mas sempre que vinham, eu era tomado por uma terrível sensação de fraqueza, como se minha boca estivesse seca e eu fosse apenas carnalidade. As tentações me atraíam com tanta força que eu não conseguia resistir. Lutava repetidas vezes, mas todos os esforços pareciam inúteis, e acabava sufocado pelas minhas próprias concupiscências. Isso se prolongou por muitos anos, mas eu nunca havia, com sinceridade, questionado a Deus o motivo ou a razão de tudo isso. Não foram poucas as vezes em que a queda suplantou a graça por minha própria permissão. Em outras palavras, eu estava mais inclinado a repetir para mim mesmo que não tinha forças e não conseguia resistir, do que a buscar compreender como poderia atravessar esses momentos mantendo os olhos fixos no Senhor.
Tudo começou a mudar quando decidi pedir ajuda a Cristo para vencer áreas da minha vida em que eu tinha grandes dificuldades e sabia que não conseguiria superar sozinho. O Senhor passou a conceder-me porções de vitória, com períodos cada vez mais prolongados, e percebi que, a partir disso, minhas quedas aconteciam por mera escolha e não mais por estar sufocado pelo desejo. Então, ao perceber que agora a escolha estava mais em minhas mãos, pedi de fato a Cristo que Ele me vencesse por completo. Aí, as coisas começaram realmente a mudar. Decidi viver uma vida mais consagrada, buscando maior intimidade com o Senhor para avançar nas questões espirituais e não desperdiçar mais tempo com nada que não fosse Cristo ou relacionado ao Seu Reino. E posso afirmar: foi a melhor decisão da minha vida.
Agora, voltemos à questão central: esses momentos de vazio, de total exposição às tentações, acompanhados pela sensação de fraqueza e impotência, deixaram de existir?
Literalmente, não! Então, o que mudou?
Com base em 2ª Coríntios 12:9, absolutamente tudo!
Agora compreendo que essa fraqueza da carne é justamente o ponto em que Deus deseja aperfeiçoar nossa vida cristã. Por isso, não procuro lutar contra o pecado com minhas próprias forças; antes, pela fé, sigo caminhando no poder do Senhor, até que esse poder seja cada vez mais aperfeiçoado em mim. Cada momento de fraqueza torna-se, assim, uma oportunidade para Deus manifestar e aperfeiçoar Seu poder em mim. É exatamente esse o ensino que o apóstolo Paulo deseja nos transmitir: uma realidade vivida por ele e que, guiado pelo Espírito, procura compartilhar e nos convidar a experimentar. Observe o que ele declara: “Por isso, de boa vontade, antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo.”
Ah, meus irmãos, como isso é real e plenamente tangível! A verdade desse ensino é essencial para uma vida saudável e repleta do poder de Deus, poder para vencer nossa carnalidade, romper correntes e despedaçar as amarras do pecado. Agora, essa “fraqueza” já não é mais a porta das tentações; tornou-se, de fato, o meio pelo qual o poder de Deus se aperfeiçoa em mim. Hoje, é justamente quando estou fraco que me glorio. sim, me glorio nas minhas fraquezas, por reconhecer que não tenho em mim a mínima capacidade de vencer aquilo que antes me escravizava, senão pelo poder de Deus.
Como alcançar essa realidade? Como esse ensino é experimentado e vivido?
Creio que o único caminho para avançar nessa realidade é o caminho da humildade, acompanhado da verdadeira humilhação diante de Deus. Pois é por meio da humilhação que reconhecemos que nada somos, nada possuímos e nada podemos sem Cristo. É pela humildade que nosso ego é esmagado em níveis que sequer conhecemos, já que muitas vezes não conseguimos enxergar a grandeza do "EU", e é justamente esse ego que nos derrota todas as vezes em que ficamos à mercê do desejo. O ego busca apenas satisfazer a si mesmo, procurando seus próprios interesses e desejando sua própria glória.
Portanto, o ego precisa ser derrotado mediante a humilhação.
Depois da humilhação e da mortificação do ego, podemos então encontrar prazer nas fraquezas, a fim de que o poder de Cristo repouse sobre nós e seja aperfeiçoado a cada novo ciclo do mover do Espírito. O ego não morre de um dia para o outro, nem de uma única vez; ele vai sendo vencido e mortificado gradualmente, a cada etapa, a cada novo despertar espiritual, de acordo com a obediência que demonstramos sob a direção do Senhor. Por isso, a obediência é tão importante para o crescimento espiritual. Se não obedecemos, simplesmente não avançamos.
Irmãos, uso o termo “despertar de realidades espirituais” porque a vida cristã não se resume a um único aspecto, mas abrange muitos outros que vão sendo revelados à medida que caminhamos com Cristo. Hoje recebemos um pouco, amanhã mais um pouco e, depois, ainda mais um bocado, em um processo de revelação contínuo. A maturidade vai sendo construída de graça em graça. É assim que devemos caminhar: deixando para trás as coisas do velho homem e despertando, literalmente, de forma plena, para a maturidade em Cristo. Sem Ele, não é possível avançar sequer um centímetro.
Que nossos ouvidos estejam sempre atentos à voz do Senhor e que nosso coração permaneça disposto a obedecer, confiantes de que Ele nos conduz à verdadeira plenitude n’Ele mesmo. Reflita sobre este texto; se necessário, reconheça que você tem cometido os mesmos erros que eu cometi. Peça a Deus que lhe dê luz para este despertar e confie na Palavra de Deus.