ORAÇÃO NO ESPÍRITO, POR MEIO DO ESPÍRITO PARA DEUS
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ORAÇÃO NO ESPÍRITO, POR MEIO DO ESPÍRITO PARA DEUS

Anselmo Lima por Anselmo Lima
17/12/2025
Como podemos pensar que é possível convencer Deus de alguma coisa? 

Pois Deus é conhecedor de tudo, em todas as epocas, inclusive sabe o que vamos dizer, antes mesmo que as palavras saiam da nossa boca.
Será que o objetivo da oração é esse?
Tentar, com nossas palavras rebuscadas e nosso poder de persuasão, convencer Deus sobre algum assunto?

Hoje, acredito que não!

É mais coerente tomarmos a via da compreensão inversa e pensarmos da sequinte forma:

Sendo Deus amor e deseja nos abençoar com todas as sortes de bençãos espirituais, e também, com reflexo em nossas vidas terrenas, possamos desfrutar do seu favor com o que precisamos diariamente.

Então, a oração não tem como objetivo, um meio de convencimento para com Deus, pelo contrário, pela oração, somos alcançados pelo poder de Deus, para nos mostrar a nós mesmos, o que precisamos, de quem dependemos, o quanto precisamos ser quebrados, o quanto nossa relação com ele é verdadeira ou meramente interessada em seu poder e suas intervensões.

A oração, ao meu ver é um meio de nos descascar, ou melhor, "everter os gomos da laranja, depois de cartada ao meio".

É justamente esse o aspecto que quero meditar "apertar o fundo da laranja para virar os gomos para fora."

Se Deus não precisa ser convencido, simplesmente porque ele não necessita da sabedoria humana para decidir nada, Ele é o que É. Então porque que nós ainda nos esforçamos em rebuscar nossas palavras, as mais bonitas e coerentes, formando verdadeiros arranjos persualivos para que Deus nos ouça e nos atenda?

Porque somos tolos, simplesmente egocentricos e maus.

Tg 4:3: "Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois o que pedis, só quereis esbanjá-lo nos vossos prazeres."

Então, eu penso que a oração, na verdade, é um meio pelo qual o Senhor deseja nos conduzir, pelo Espírito Santo, a revelar quem realmente somos e aquilo de que verdadeiramente precisamos. Muitas vezes não sabemos o que necessitamos, mas o Senhor conhece exatamente nossas necessidades.

É por meio da oração que Ele quer nos guiar, uma oração alinhada com o próprio Deus, o Pai. Se olharmos para o texto de Tiago, perceberemos isso claramente: muitas vezes oramos, pedimos e não recebemos, porque pedimos mal. Essa má petição, acredito eu, refere-se ao pedir na carne, ao pedir para nossos próprios deleites, e não a uma oração de acordo com o coração do Senhor.

Uma laranja cortada ao meio, para extrair os gomos, apertamos o fundo da fruta para à frente. Assim também a oração deve expressar aquilo que somos por dentro. E isso só é possível pelo Espírito de Deus.

Acredito que a oração tem essa característica: um coração humilde na presença do Pai, para que a comunhão com o Senhor seja verdadeira, e não uma comunhão cheia de si mesma, de interesses pessoais ou desejos desalinhados com Ele. Esse tipo de oração é a que agrada a Deus, porque é dirigida pelo próprio Senhor.

Por isso é tão importante aprender a orar no Espírito, permitindo que o Senhor, através do Seu Espírito, nos conduza nas palavras, nos sentimentos e nos assuntos. 

Se analisarmos, por exemplo, o coração da oração do Pai Nosso, quando o Senhor Jesus nos ensina a orar ao Pai, percebemos um trecho muito importante: “Seja feita a Tua vontade e não a nossa.” Isso porque a nossa vontade, quando não está alinhada com a vontade de Deus, é apenas uma vontade humana, desprovida da providência e do favor divino.

É claro que, em Sua grandeza e misericórdia, o Senhor até atende algumas orações. Mas a verdadeira oração é aquela que está alinhada com o coração do Pai. Essa é a oração que devemos buscar praticar. E aqui cabe uma observação: não se aprende a orar de fato; aprende-se a ser guiado pelo Espírito de Deus. Cada oração é única, distinta, nova. Caso contrário, seríamos como aqueles que repetem sempre as mesmas palavras e pensamentos. O próprio Senhor Jesus disse que não é pelo muito falar que seremos ouvidos.

Portanto, não se trata de insistir diante de Deus com as mesmas questões, ainda que isso não seja totalmente errado, mas sim de uma oração feita com fé, alinhada ao coração do Senhor. Essa, certamente, é a oração que Ele ouve e responde, muitas vezes de forma imediata. Afinal, se é o próprio Senhor quem nos conduz a orar de determinado modo, não faz sentido que Ele demore ou deixe de responder. Acredito que o Senhor deseja nos conduzir a essa percepção pelo Espírito Santo, para que em nós seja encontrado o mover da Sua voz. Uma voz que sabemos não ser fruto da nossa intenção, pensamento ou desejo, mas sim da direção do próprio Deus. É dessa forma que podemos alcançar o favor divino.

Muitas vezes nos perguntamos o motivo de certas situações, mas isso não cabe a nós. Somos seres espirituais vivendo neste mundo, e de certo modo estamos em desvantagem, porque nossa luta é espiritual. Existem seres espirituais batalhando contra nós, milhares, tentando impedir que nossa oração seja conduzida corretamente. Por isso somos atacados por pensamentos e setas malignas. É necessário, então, que estejamos em plena tranquilidade diante do Senhor quando nos dedicamos à oração. Foi também por isso que Jesus ensinou: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.” Mateus 6:6-7

Aqui posso ver aspectos importantes: estar no quarto, longe do barulho, das vozes, dos olhares e das recompensas humanas, que também é uma brecha para o orgulho do homem e consequentemente não grada a Deus. Não devemos ser como os fariseus hipócritas, que oravam em público para serem vistos pelos homens. Esses já receberam sua recompensa, mas não da parte de Deus.

A verdadeira oração é no Espírito. Não significa que seja sempre silenciosa, mas que é guiada pelo Espírito Santo. É Ele quem nos conduz nas palavras e nos motivos. Essa oração não busca o louvor dos homens, não se preocupa com a beleza das palavras ou com a força da argumentação, porque não é nossa intenção convencer a Deus. É o Espírito Santo nos mostrando nossa incapacidade e conduzindo-nos a crer mais no Senhor a cada palavra. A oração é um processo interno que muitas vezes não percebemos. Ela nos leva a uma realidade de vida com Deus que vai além de alcançar favores. 

É claro que o Senhor nos favorece, porque é um Pai bondoso e misericordioso, que sabe do que precisamos antes mesmo de falarmos. Mesmo quando oramos sem à Sua direção, em nossa ignorância ou ganância, Ele sonda nossos corações e nos favorece, porque é misericordioso e amoroso. Lc 11:11: "Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra?"

Mas a intenção do Senhor é que compreendamos que a oração é uma ferramenta pela qual Ele deseja nos desnudar: arrancar nossas corrupções, nossa malícia, converter nossos maus pensamentos e caminhos para que andemos em Seu Caminho. Quantas vezes, em oração, saímos leves, como se um peso fosse tirado de nós. Quantas vezes somos quebrados, caímos em choro profundo, sem saber o motivo, pois é o próprio Espírito Santo nos moendo por dentro, mostrando nossas misérias e fraquezas.

O Senhor deseja nos conduzir por essas veredas, porém muitas vezes resistimos. Somos teimosos, como crianças malcriadas. Não porque o Pai nos tenha criado assim, mas porque insistimos em viver do nosso jeito. Nosso ego não quer perder. Ainda carregamos em nós o “Adão”, que deseja viver sua própria vida, e ser dono do seu próprio nariz, livre do Senhor. Adão precisa "morrer"!

Precisamos compreender o que significa morrer. Essa morte é a morte do ego, do “eu”, da minha vontade, dos meus desejos e da minha compreensão puramente humana, sem a graça de Deus. Essa pessoa precisa, de fato, desaparecer, Jo 3:30: "É necessário que ele cresça, e eu diminua”."

Até que isso aconteça de forma plena, estaremos sempre travando uma luta interior. É um processo lento, demorado, doloroso, mas absolutamente necessário. Quem deseja uma vida mais purificada diante do Senhor, uma vida santa e íntima com Cristo, precisa compreender essa realidade: a realidade do morrer, de se perder totalmente em Deus, de se perder na compreensão de Cristo.

O objetivo é que em nós não habite mais o “eu”, mas que possamos chegar a declarar, como Paulo: “Já não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim.” Esse é exatamente o processo pelo qual lutamos agora, se é que já compreendemos essa necessidade e se o Senhor já nos abriu o entendimento para perceber que somos incapazes de alcançar a Deus por nós mesmos. Enquanto estivermos vivos em nosso próprio ego, seremos imaturos, cegos, tateando na escuridão. Que o Senhor nos mostre, por meio da Sua Palavra e da comunhão, que precisamos nos render 100% a Cristo, sem reservas, sem limites, buscando morrer em todas as nossas vontades latentes. Esse morrer não pode ser temporário, de uma semana ou de um mês. É um morrer eterno, definitivo, que não volta a viver. Precisa ser enterrado de fato. Caso vacilemos, essas questões ressuscitam em nós, porque o pecado tem poder de trazer de volta aquilo que deveria estar morto. O “Adão” em nós sempre tenta retornar, contribuindo para a carne, que não quer se submeter. A carne não se converte, por isso a escritura diz em Rm 8:8: "Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus." e ainda tem Gl 5:17-18: "Pois o que a carne deseja é contra o Espírito, e o que o Espírito deseja é contra a carne: são o oposto um do outro, e por isso nem sempre fazeis o que gostaríeis de fazer. Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei."

Com o tempo, muitas questões que antes eram difíceis tornam-se mais fáceis pela comunhão com o Senhor, pela santificação e pela mortificação. Mas, mesmo assim, é necessária uma constante vigilância. A Escritura diz: “Aquele que está em pé, cuide para que não caia.” Ou seja, é possível cair, é possível vacilar. A vigilância precisa ser contínua, para que não sejamos enganados, pensando estar firmes quando, na verdade, estamos caídos. Muitas vezes achamos que estamos bem, mas no fundo estamos mal, enganando a nós mesmos. Jesus também disse: “Se a luz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas!” Esse discernimento espiritual é fundamental. 

A vida com o Senhor deve ser contínua, sem interrupções. Não pode ser hoje estar bem e amanhã estar mal. É claro que, durante a caminhada com o Senhor, passaremos por desertos, mas precisamos compreender desde cedo que esse deserto não é de morte, e sim de amadurecimento.

Logo, é tão importante aprendermos essa ferramenta tão necessária que é a oração no Espírito, oração dirigida pelo Senhor. Trata-se de uma vida de intimidade tão profunda com Deus que somos guiados nas palavras, nos assuntos, em tudo provendo o próprio Senhor. É uma vida rendida, plena de Cristo, em que, é o próprio Espírito de Cristo quem nos conduz no que devemos pedir. Não se trata mais das minhas vontades ou necessidades, porque Deus já as conhece. Trata-se do Senhor nos conduzindo a pedir aquilo que realmente precisamos, aquilo que está no coração de Deus para nos conceder. Essa é a vida que precisamos buscar. 

Não falo como quem já alcançou plenamente, mas como alguém que já vislumbrou essa realidade e percebeu que esse é o caminho, a direção do Senhor para a vida dos Seus filhos. Por isso, irmãos, compartilho sobre esse assunto: muitas vezes, nossas orações são egocêntricas. Por desconhecermos as verdades do Senhor, acabamos colocando Deus “contra a parede”, como crianças que puxam a barra da roupa da mãe ou do pai. O Senhor, em Sua misericórdia e amor, nos concede muitas coisas, mas não é essa a Sua vontade. A vontade de Deus é que amadureçamos, que tenhamos um coração simples como o de uma criança, mas sejamos homens e mulheres maduros no entendimento. E esse entendimento também vem dEle. Mas como crescer se não estamos dispostos a ler, ouvir e compreender? Muitas vezes queremos manter tudo como sempre foi, pedindo e clamando pelas mesmas coisas, sem resultados, porque pedimos mal. Algumas coisas o Senhor concede, mas outras não, porque pedimos de forma errada, segundo nossos próprios interesses, sem ouvir o que Ele realmente deseja nos dar e nos conduzir a pedir.

Que o Senhor nos mostre, dentro dessa compreensão, a verdadeira luz sobre esse assunto. É um tema denso, longo, com muitos textos que podem parecer contraditórios, mas não são. Creio que este é um aspecto importante, não o único, mas um fundamento que precisa ser retomado e realinhado na vida cristã. Que o Senhor nos abençoe e nos guarde em Cristo. Que Ele nos conduza à Sua própria vontade, fazendo-nos enxergar nossas mazelas, nossas fragilidades, nossas faltas e até nosso jeito ignorante de falar e perceber as coisas de Deus.

Permaneçamos firmes naquela palavra que diz: “A luz do Senhor vai brilhando, brilhando, até se tornar dia perfeito.” que sejamos conduzidos nessa maravilhosa luz, para que o dia perfeito chegue no tempo de Deus, segundo a Sua vontade, segundo os preceitos do Seu coração e segundo a necessidade que Ele vê em nós, não segundo aquilo que queremos, mas segundo aquilo que realmente precisamos.
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ASPECTOS DA VIDA CRISTÃ
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ASPECTOS DA VIDA CRISTÃ

Anselmo Lima por Anselmo Lima
26/11/2025
2Co 12:9: "e ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo."

Ao lermos o início do capítulo 12 de 2ª Coríntios, percebemos que Paulo começa a relatar uma de suas experiências espirituais. Ele se coloca na terceira pessoa, justamente para não atribuir a si mesmo qualquer glória por esse acontecimento. Obviamente, o apóstolo compreende que suas experiências e revelações não são fruto de sua própria vontade, mas expressão da vontade de Deus. Elas existem para revelar-lhe as riquezas de Cristo e a essência da vida cristã e, eu diria, sobretudo para nos oferecer clareza, compreensão, esperança e direção no caminhar da maturidade.

Nota-se que, por duas vezes, ele insinua o “gloriar-me”. Contudo, ao analisarmos o contexto entre os versículos 1 e 10, percebemos que esse gloriar-se não provém de uma glória particular ou humana (glória de homem), mas, ao contrário, nasce da experiência da glória de Deus. Podemos confirmar, inclusive, que essa glória mencionada o conduz a encontrar prazer em suas próprias fraquezas, como fica evidente no versículo 10. Paulo relata a experiencia de ouvir da boca do Senhor "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza".

Ah, irmãos, muitas vezes, por desconhecermos os ensinos do Senhor, por não estarmos atentos à disciplina do Espírito ou por não darmos ouvidos ou até mesmo por não termos quem nos ministre, acabamos sofrendo prejuízos enormes.

Quantas vezes, após um período glorioso com Deus, repleto de graça, presença, plenitude e até experiências extraordinárias, nos sentimos vazios, frágeis e expostos ao pecado de maneira avassaladora. Nesses momentos, estamos enfraquecidos, sujeitos a todo tipo de impureza e, por não compreendermos o que isso significa, somos dominados por desejos que nos levam a desfalecer na fé e a cair no erro. Assim, acabamos pecando por simples ignorância.

Quero compartilhar o que tenho aprendido com o Senhor nesses períodos. Muitas vezes, esses momentos aconteciam logo após um dia de intensa comunhão com Cristo; outras vezes, surgiam depois de alguns dias. Mas sempre que vinham, eu era tomado por uma terrível sensação de fraqueza, como se minha boca estivesse seca e eu fosse apenas carnalidade. As tentações me atraíam com tanta força que eu não conseguia resistir. Lutava repetidas vezes, mas todos os esforços pareciam inúteis, e acabava sufocado pelas minhas próprias concupiscências. Isso se prolongou por muitos anos, mas eu nunca havia, com sinceridade, questionado a Deus o motivo ou a razão de tudo isso. Não foram poucas as vezes em que a queda suplantou a graça por minha própria permissão. Em outras palavras, eu estava mais inclinado a repetir para mim mesmo que não tinha forças e não conseguia resistir, do que a buscar compreender como poderia atravessar esses momentos mantendo os olhos fixos no Senhor.

Tudo começou a mudar quando decidi pedir ajuda a Cristo para vencer áreas da minha vida em que eu tinha grandes dificuldades e sabia que não conseguiria superar sozinho. O Senhor passou a conceder-me porções de vitória, com períodos cada vez mais prolongados, e percebi que, a partir disso, minhas quedas aconteciam por mera escolha e não mais por estar sufocado pelo desejo. Então, ao perceber que agora a escolha estava mais em minhas mãos, pedi de fato a Cristo que Ele me vencesse por completo. Aí, as coisas começaram realmente a mudar. Decidi viver uma vida mais consagrada, buscando maior intimidade com o Senhor para avançar nas questões espirituais e não desperdiçar mais tempo com nada que não fosse Cristo ou relacionado ao Seu Reino. E posso afirmar: foi a melhor decisão da minha vida.

Agora, voltemos à questão central: esses momentos de vazio, de total exposição às tentações, acompanhados pela sensação de fraqueza e impotência, deixaram de existir?

Literalmente, não! Então, o que mudou?

Com base em 2ª Coríntios 12:9, absolutamente tudo!

Agora compreendo que essa fraqueza da carne é justamente o ponto em que Deus deseja aperfeiçoar nossa vida cristã. Por isso, não procuro lutar contra o pecado com minhas próprias forças; antes, pela fé, sigo caminhando no poder do Senhor, até que esse poder seja cada vez mais aperfeiçoado em mim. Cada momento de fraqueza torna-se, assim, uma oportunidade para Deus manifestar e aperfeiçoar Seu poder em mim. É exatamente esse o ensino que o apóstolo Paulo deseja nos transmitir: uma realidade vivida por ele e que, guiado pelo Espírito, procura compartilhar e nos convidar a experimentar. Observe o que ele declara: “Por isso, de boa vontade, antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo.”

Ah, meus irmãos, como isso é real e plenamente tangível! A verdade desse ensino é essencial para uma vida saudável e repleta do poder de Deus, poder para vencer nossa carnalidade, romper correntes e despedaçar as amarras do pecado. Agora, essa “fraqueza” já não é mais a porta das tentações; tornou-se, de fato, o meio pelo qual o poder de Deus se aperfeiçoa em mim. Hoje, é justamente quando estou fraco que me glorio. sim, me glorio nas minhas fraquezas, por reconhecer que não tenho em mim a mínima capacidade de vencer aquilo que antes me escravizava, senão pelo poder de Deus.

Como alcançar essa realidade? Como esse ensino é experimentado e vivido?

Creio que o único caminho para avançar nessa realidade é o caminho da humildade, acompanhado da verdadeira humilhação diante de Deus. Pois é por meio da humilhação que reconhecemos que nada somos, nada possuímos e nada podemos sem Cristo. É pela humildade que nosso ego é esmagado em níveis que sequer conhecemos, já que muitas vezes não conseguimos enxergar a grandeza do "EU", e é justamente esse ego que nos derrota todas as vezes em que ficamos à mercê do desejo. O ego busca apenas satisfazer a si mesmo, procurando seus próprios interesses e desejando sua própria glória.

Portanto, o ego precisa ser derrotado mediante a humilhação.

Depois da humilhação e da mortificação do ego, podemos então encontrar prazer nas fraquezas, a fim de que o poder de Cristo repouse sobre nós e seja aperfeiçoado a cada novo ciclo do mover do Espírito. O ego não morre de um dia para o outro, nem de uma única vez; ele vai sendo vencido e mortificado gradualmente, a cada etapa, a cada novo despertar espiritual, de acordo com a obediência que demonstramos sob a direção do Senhor. Por isso, a obediência é tão importante para o crescimento espiritual. Se não obedecemos, simplesmente não avançamos.

Irmãos, uso o termo “despertar de realidades espirituais” porque a vida cristã não se resume a um único aspecto, mas abrange muitos outros que vão sendo revelados à medida que caminhamos com Cristo. Hoje recebemos um pouco, amanhã mais um pouco e, depois, ainda mais um bocado, em um processo de revelação contínuo. A maturidade vai sendo construída de graça em graça. É assim que devemos caminhar: deixando para trás as coisas do velho homem e despertando, literalmente, de forma plena, para a maturidade em Cristo. Sem Ele, não é possível avançar sequer um centímetro.

Que nossos ouvidos estejam sempre atentos à voz do Senhor e que nosso coração permaneça disposto a obedecer, confiantes de que Ele nos conduz à verdadeira plenitude n’Ele mesmo. Reflita sobre este texto; se necessário, reconheça que você tem cometido os mesmos erros que eu cometi. Peça a Deus que lhe dê luz para este despertar e confie na Palavra de Deus.
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A VIDA CHEIA DO ESPÍRITO E A REALIDADE DA GRAÇA
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A VIDA CHEIA DO ESPÍRITO E A REALIDADE DA GRAÇA

Anselmo Lima por Anselmo Lima
20/11/2025
A Escritura nos instrui com clareza quando diz:

Efésios 5:18 

NVI: “Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito.”

Bíblia de Jerusalém: “E não vos embriagueis com vinho, que é uma porta para a devassidão, mas buscai a plenitude do Espírito.”

Essas palavras revelam uma verdade essencial da vida cristã: viver cheio do Espírito não é um evento isolado, mas um estado contínuo, um relacionamento que não se interrompe. É como uma chama acesa que não perde intensidade. Essa realidade é possível, é vivível, mas não acontece em uma vida espiritual superficial. A experiência comum da fé produz uma espiritualidade proporcional; porém, a vida mais profunda, aquela vida mais alta que as Escrituras apontam, nos conduz para uma plenitude constante e crescente.

Quanto mais de Cristo se busca, mais de Cristo se alcança. Não porque o ato de buscar produza mérito, pois é evidente que não temos mérito algum diante de Deus. Tudo é graça. Mas existe graça disponível, abundante, para os que O desejam intensamente, para os que O querem de verdade. A graça é gratuita, mas custou um preço inestimável.

A própria Bíblia nos orienta a andar em Cristo de maneira digna do Senhor. Mesmo assim, muitos resistem a essa ideia. Vão enfatizar que é “pura graça”, como se isso estivesse em contradição com a necessidade de santificação e entrega. Mas essa não é uma contradição; é exatamente o ponto. Basta olhar para a igreja, para a vida espiritual de muitos irmãos: a graça da qual estamos falando parece estar em falta. Não vemos, com frequência, homens e mulheres vivendo consagrados e santificados. E isso deveria ser justamente o reflexo da graça operante.

Sim, é pela graça, totalmente. Graça sobre graça. Mas essa graça carrega consigo um peso de glória, um impulso santo, uma inclinação interior para uma vida consagrada. Não acredito que alguém que tenha experimentado a graça em seu aspecto mais profundo consiga se contentar com uma vida rasa, sem intimidade contínua com Cristo. Quem já provou essa realidade não quer perdê-la.

No início, por não compreendermos bem o caminho para uma vida cheia e real, temos apenas experiências passageiras. Momentos sublimes, porém breves; horas, dias, talvez semanas. Mas quando não há correspondência da nossa parte, essas experiências se dissipam. E alguém pode perguntar: “então a graça não é o favor imerecido de Deus?” É aqui que muitos se confundem e deixam escapar uma verdade sutil, mas essencial.

 “A graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.” (João 1:17)

Sim, Ele nos deu e continua nos dando graça. Mas manter a porção viva, ininterrupta, requer santificação, esvaziamento do eu, comunhão constante com Cristo. Exige uma vida entregue de verdade. É assim que graça sobre graça, porção sobre porção, mantém a comunhão viva como um estado contínuo, quase simbiótico, onde nossa vida e a dEle se entrelaçam de maneira perceptível.

Com o tempo, aquilo que antes era uma experiência temporária torna-se mais constante e duradoura. Nosso falar, nosso ouvir, nosso olhar, tudo começa a ser guiado pela proporção da graça que recebemos e preservamos. À medida que o ego é mortificado, Cristo ocupa o espaço interior. Onde antes havia “eu”, agora há Cristo. Graças a Deus pela graça da vida de Cristo em nós. Isso só é possível pela graça, mas não esqueçamos dos depósitos dessa graça, que precisam ser preservados.

Uma comunhão ininterrupta com o Senhor exige plenitude de entrega. Adorá-lo em espírito e em verdade não é exaustivo nem momentâneo; é um deleite que se renova. Mesmo nas atividades comuns do dia a dia, a graça nos chama para a comunhão. Ela nos convida a permanecer no lugar interior onde Cristo governa. E quando nos sentimos fracos, o que temos é a graça. E se por descuido não preservamos as porções recebidas, Deus, em Sua misericórdia, nos alcança com uma nova medida, um renovo.

Mas, infelizmente, muitos de nós não anseiam por mais de Deus. É como se estivessem satisfeitos com pouco, e isso é triste e perigoso. Porque a graça verdadeira desperta fome, não apatia; desperta busca, não acomodação. Quem já provou a plenitude jamais quer voltar ao superficial.
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Cinco pães e dois peixinhos
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Cinco pães e dois peixinhos

Anselmo Lima por Anselmo Lima
12/11/2025
Jo 6:5-7: "Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Felipe: Onde compraremos pães, para estes comerem? Mas dizia isto para o experimentar; pois ele bem sabia o que estava para fazer. Respondeu-lhe Felipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco."

Entre os milagres registrados, este talvez seja o mais frequentemente pregado, pois carrega um simbolismo tão rico que, a cada ministração, sempre haverá algo novo a ser revelado pelo Espírito. O relato não se limita apenas ao versículo 7, mas creio que, por ora, será suficiente avançarmos até o versículo 27.

Primeiramente, precisamos compreender que aquelas multidões não estavam ali por acaso. Elas não foram simplesmente ver Jesus como quem aparece do nada. Na verdade, aquela multidão era fruto do que haviam presenciado: os sinais que Jesus realizara. Como está escrito em João 6:2 “Seguia-o uma grande multidão, porque viram os sinais que fizera sobre os enfermos.”

Dito isso, surge agora uma grande demanda a ser suprida: alimentar essa enorme multidão, pela qual Jesus se compadeceu. Eles o seguiam há alguns dias, e como não havia lugar onde se pudesse comprar mantimentos, suprir essa necessidade tornou-se algo extremamente urgente. Entre eles havia pessoas de diversas faixas etárias, idosos, crianças, entre outros. Se Jesus os mandasse embora sem alimentá-los, certamente muitos desfaleceriam no caminho de volta para suas casas.

A pergunta que Jesus faz a Filipe é interessante, pois é legítima. E a resposta, por sua vez, é igualmente coerente, sincera e sensata. É exatamente o que qualquer pessoa ponderada diria. Mesmo alguém de fé não tem como conhecer, de antemão, os planos de Deus. Precisamos nos conscientizar de que, ainda que houvesse disponível duzentos denários, o equivalente a aproximadamente duzentos dias de salário disponíveis no caixa, ou mesmo que fosse possível arrecadar esse valor entre o próprio povo, não haveria onde comprar alimento suficiente. E, mesmo que houvesse onde comprar, devido à quantidade de pessoas presentes, nem todos receberiam uma porção. O texto é claro ao afirmar que, mesmo com esse recurso, alguns não receberiam sequer um pouco.

E então, aparece André com uma informação “nova”: João 6:9 “Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tanta gente?” Sinceramente, eu imagino Filipe ouvindo isso e pensando: “Você só pode estar brincando comigo a essa hora do dia!” Porque, convenhamos, é exatamente isso que qualquer um de nós diria numa situação dessas. Como homem, eu certamente responderia do mesmo jeito: “Cinco pães e dois peixinhos? Para essa multidão toda? Tá de brincadeira, né?”

Pois bem, o que o texto nos mostra é que não havia uma solução humanamente viável. Aos olhos da razão, era impossível resolver aquela situação pelos meios comuns. A saída mais fácil seria dispersar as multidões, permitindo que cada um buscasse suas próprias soluções. Em outras palavras, seria mais simples dizer: “Olhem, nós não pedimos que vocês viessem nos seguindo. Não temos como alimentar todos vocês. Portanto, por gentileza, procurem seus próprios suprimentos e, se quiserem continuar nos acompanhando, estejam mais preparados da próxima vez.” 

No entanto, esse não era o plano de Jesus, conforme a biblia diz: Is 55:8-10: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come,"

Então Jesus ordena que os discípulos instruam o povo a se assentar. Essa posição remete à espera, à paciência diante da provisão de Deus. E não por acaso, eles se assentam sobre a grama. Essa imagem nos leva diretamente ao Salmo 23:2-3: “Ele me faz repousar em pastagens verdejantes e me conduz a águas tranquilas; restaura-me o vigor. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.” A atitude de se assentar é, portanto, um gesto de confiança. É como se o povo dissesse, mesmo sem palavras: “Estamos aqui, olhando para nosso Pastor, esperando o que Ele vai fazer.”

E justamente o que Jesus faz é dar graças pelos cinco pães e distribuí-los. Algumas versões trazem a ideia de que Ele os entregou aos seus discípulos, o que está totalmente de acordo com os relatos de Mateus 14:19, Marcos 6:41 e Lucas 9:16. Porém, neste relato específico, temos a impressão de que é o próprio Jesus quem está distribuindo. Ou seja, o ato é o mesmo, e o fato também é o mesmo. Isso nos conduz à verdade expressa em Mateus 10:40: “Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou.” 

Assim, seja pelas mãos de Jesus ou pelas mãos dos discípulos, a provisão vem do mesmo lugar: do Pai, por meio do Filho.

Da mesma forma, Jesus faz com os dois peixes ou melhor, os dois peixinhos. E o texto original traz um detalhe curioso: “tanto quanto queriam”. Ou seja, foi praticamente um rodízio celestial de peixe e pão. Doze garçons passando com as bandejas. Esses dois peixinhos carregam um simbolismo profundo. Muito provavelmente eram peixes secos ou conservados em salmoura, porque, convenhamos, se fossem frescos, já teriam estragado no meio daquela caminhada. E sejamos honestos: dois peixes, uma quantidade quase simbólica. Pelo tamanho, eu não arriscaria dizer que eram sardinhas… talvez até duas pititingas! E ah, como eu amo uma pititinga frita, crocante, douradinha, daquele jeito que só quem já comeu sabe.

Esses dois peixes carregam em si a simbologia da provisão humana, aquela que o Senhor nos concede por meio natural, como os recursos disponíveis na criação. São dádivas que, embora venham de Deus, exigem preparo, cuidado e armazenamento para que não se percam. É a provisão que nos ensina a administrar, preservar e reconhecer que até o que parece simples é fruto da graça divina. Verdadeiramente, o foco central que enxergo não está nos peixes, mas claramente no pão. É sobre ele que Jesus quer nos ensinar algo profundo, como começa a dizer em seguida: João 6:12 “E quando estavam fartos, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.”

Temos aqui duas vertentes a considerar, ou seja, duas linhas de raciocínio que são verdadeiras e se complementam:

• Na passagem de João, parece que não sobraram peixes, apenas pão.
• Já no relato de Marcos, por exemplo, é mencionado que sobraram tanto pães quanto peixes.

Sabemos que, quando nos deparamos com esse tipo de diferença entre os relatos, que à primeira vista podem parecer contraditórios, trata-se, na verdade, de uma questão de revelação. O foco não está na divergência, mas sim no propósito e na audiência para a qual cada texto foi escrito. Cada evangelho carrega uma ênfase específica, revelando aspectos distintos da mesma verdade, conforme a intenção do Espírito ao inspirar cada autor.

Com base nisso, não é incorreto afirmar que, para João, as sobras dos peixes não tiveram tanta relevância. O texto joanino não menciona a sobra dos peixes, mas também não a exclui de forma objetiva, apenas não a cita. Isso reforça a ideia de que cada evangelista enfatiza aspectos diferentes do mesmo evento, conforme a revelação recebida e o propósito específico de sua escrita. João, ao destacar apenas os pães, parece querer chamar atenção para o simbolismo do pão como provisão espiritual, preparando o terreno para o discurso que virá a seguir sobre o “pão da vida”.

Quero destacar alguns detalhes que tendem a se perder numa leitura rápida, mas que são de extrema importância para que possamos ruminar ao máximo a vida do Senhor. São nuances que, à primeira vista, podem parecer simples, mas carregam revelações preciosas para quem se dispõe a meditar com um pouco mais de atenção. Repare que o texto diz: "E quando estavam fartos" então Jesus manda os discipulos recolherem os pedaços que sobraram para que nada se perdesse.

Bom, pelos relatos dos outros evangelhos, dá pra entender que a hora do almoço já tinha passado faz tempo. Ou seja, depois de ouvir Jesus e testemunhar suas maravilhas, o povo estava com o estômago gritando, e não era de emoção, era de fome mesmo! Imagina milhares de pessoas ali, maravilhadas com os ensinamentos, mas ao mesmo tempo pensando: “Glória a Deus, mas será que vai ter um lanchinho?” Talvez o semblante de alguns já fosse algo impossível de esconder. Havia olhares perplexos diante das maravilhas que viam e ouviam, mas também rostos desfalecidos pela fome. E Jesus, que possuía discernimento espiritual, sabia exatamente da necessidade que se espalhava em larga escala entre aquela multidão. Ele não via apenas rostos; Ele via corações. Não apenas a admiração, mas também a fraqueza. E, como bom pastor, não ignorou nenhum dos dois.

A provisão que Jesus traz não é “meia boca”, é além das expectativas humanas. Do mesmo modo que Ele percebeu a fome, também percebeu a satisfação: “E quando estavam fartos…”Ah, eu peço a Deus que eu nunca me farte do alimento do Senhor. Porque a característica de quem está farto é, simplesmente, rejeitar. E eu não quero rejeitar nada que venha d’Ele. Dá-me mais fome, mais sede, mais dependência de Ti, meu Senhor. Que eu nunca me acomode, nunca me satisfaça ao ponto de parar de buscar. Que o meu coração esteja sempre faminto pela Tua presença.

Uma vez fartos, os "garçons", os doze, cada um com seus cesto acabam de recolher a sobra, e os cestos cheios, rapidamente me levam a pensar:

O pão foi suficiente para todos. Todos ficaram saciados, comeram à vontade, como num verdadeiro rodízio, onde se pode repetir quantas vezes quiser. Nada se perdeu. Os doze cestos recolhidos simbolizam a provisão completa: não apenas para as doze tribos de Israel, mas também para todos os povos. A abundância não era apenas física, mas principalmente espiritual. Assim como José, que é uma figura (ou tipo) de Cristo, foi rejeitado pelos seus irmãos, vendido por prata, humilhado e, por fim, tornou-se salvador, não apenas de Israel, mas também das nações. Da mesma forma, Jesus é o pão que desceu do céu, suficiente para todos, judeus e gentios, sem distinção.

O relato prosegue dizendo que: Jo 6:14: "Vendo, pois, aqueles homens o sinal que Jesus fizera, diziam: este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo." 

Portanto, vamos dar um salto direto para o versículo 26, porque, se não fizermos isso, acabamos entrando em outra demanda de milagre que pretendo me debruçar em outra oportunidade… E olha que milagre é o que não falta por aqui! risos.

Jo 6:26: "Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos fartastes."

A multidão ainda está “caçando” Jesus por onde quer que Ele vá. Basta uma leitura dos versículos que pulamos para perceber isso. Mas o que chama atenção é a resposta do Senhor, que aponta para a continuidade do que foi realizado na multiplicação. Vejamos que riqueza: “Me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos fartastes.” Ora, o pão que comeram não foi um sinal? Afinal, no versículo 14 está escrito: “Vendo, pois, aqueles homens o sinal…” Que sinal? A multiplicação dos pães e a sobra dos doze cestos, trata-se de (o) sinal. Mas o que Jesus está dizendo é que eles não vieram por causa disso. Vieram porque o pão que comeram os saciou. E não foi como um pão de qualquer padaria, nem como um simples pão de cevada, que, aliás, é mencionado em Números 5:15 como oferta pelo ciúmes, (também não irei entrar nessa questão, quem lê entenda). Foi uma saciedade que eles jamais haviam experimentado. Era um pão com sabor de eternidade, com peso de revelação, com presença de Deus. E isso, mesmo sem entenderem completamente, os atraiu.

Então o Senhor acrescenta: Jo 6:27: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois sobre ele, Deus, o Pai, imprimiu seu selo."

É o mesmo que dizer: vocês costumam se desgastar pelo alimento da terra, aquele que precisa ser seco ou colocado no sal para ser preservado. Esse alimento perece, acaba, não sobra, não é suficiente. Mas o pão que Eu lhes dei antes… ah, esse pão alimentou vocês de forma diferente. Vocês receberam apenas um sinal, e mesmo assim ficaram saciados. Eu tenho muito mais do que doze cestos para lhes dar, tenho uma comida que permanece para sempre. Não é necessário sal para preservá-la, porque é essa comida que preserva vocês, e não vocês a ela.

Ah, irmãos, quando somos convencidos pelo Senhor de que é dEle que precisamos, de que é somente por Ele que vivemos, e que nossa dependência dEle é uma necessidade que precisa ser maturada, então Ele mesmo nos dará de Si, para que comamos da sua mesa e nos saciemos nEle. Não será uma saciedade que nos fará rejeitá-Lo, como quem recusa uma simples comida quando está de estômago cheio, mas uma saciedade que nos induz a buscar mais e mais dEle. O Senhor nos alimenta de uma forma tão profunda que não o buscamos apenas por estarmos alimentados, mas por estarmos à mesa com Ele.

A minha oração é que esta meditação alcance em você um sincero despertar para a vida de dependência do Senhor. Uma dependência que não é marcada por sufocos, nem por altos e baixos, nem por aquela ansiedade que nos faz roer os dentes esperando ver o agir de Deus. Mas, sim, por uma confiança tranquila de que é Ele quem trará o necessário para nos alimentar hoje.

Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas.
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Salmo 91 (Verso 1)
Reflexões Mensagens

Salmo 91 (Verso 1)

Anselmo Lima por Anselmo Lima
08/11/2025
Salmo 91:1
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará.

Este salmo é um cântico que transmite confiança em Deus como nosso protetor. As expressões "esconderijo" e "à sombra" evocam um refúgio seguro, um lugar acolhedor onde encontramos paz e proteção.

É importante compreender que estamos lidando com uma linguagem antropomórfica, ou seja, o uso de termos humanos, tanto físicos quanto emocionais, para descrever Deus. Esse recurso tem como objetivo tornar a compreensão de Deus mais acessível aos leitores. Dito isso, precisamos aprofundar nosso entendimento sobre o que significa estar no esconderijo do Altíssimo e sob à sombra do Todo-Poderoso.

No texto original hebraico, a palavra usada para "esconderijo" é cether, que remete a um lugar secreto e protegido. Trata-se de um ambiente disponível, embora pouco conhecido, cuja principal característica é a segurança. Essa imagem também sugere a ideia de viver ali.

É justamente esse "viver ali" que o texto propõe ao afirmar: "aquele que habita". É como se o autor estivesse nos revelando que é possível habitar de forma real nesse lugar. Não se trata de um texto meramente alegórico ou poético, mas de um ensinamento sobre uma realidade espiritual concreta.

O ambiente que o salmista chama de "esconderijo do Altíssimo" revela não apenas um lugar de proteção, mas também nos apresenta uma segunda característica singular e profundamente espiritual: estar "à sombra do Todo-Poderoso". Essa expressão não se refere apenas a proximidade física, mas simboliza intimidade, cobertura e comunhão contínua com Deus. Estar à sombra do Todo-Poderoso é também desfrutar da segurança que emana da Sua Pessoa, um privilégio que só é possível para aqueles que habitam nesse lugar secreto. Trata-se de uma condição espiritual que transcende o entendimento humano e convida o crente a viver sob a influência direta do poder divino.

Embora muitos entendam que se trata da mesma coisa, apresentada com uma dualidade didática, não é assim que compreendo. A meu ver, são dois elementos de uma mesma realidade, ou seja, duas percepções distintas, porém interligadas. É como se estar "à sombra" fosse uma extensão natural de "habitar no esconderijo", revelando uma progressão dessa realidade espiritual.

Em outras palavras, "habitar no esconderijo" não significa, necessariamente, estar sob "à sombra". No entanto, estar sob "à sombra" é o resultado natural de habitar nesse lugar secreto. Uma analogia simples seria imaginar que Deus se aproxima desse ambiente e, ao fazê-lo, projeta Sua sombra sobre o salmista. Que é exatamente uma manifestação de Sua presença, cuidado, proteção e descanso.

Com base nessa compreensão, e à luz do Novo Testamento, podemos vislumbrar com mais precisão o que Cristo quis ensinar ao dizer:

Jo 17:20-21: "E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste."

Agora, esse lugar secreto é plenamente revelado por meio da cruz de Cristo, tornando-se acessível àqueles que atendem ao chamado. Esse Caminho conduz à Entrada, e a Entrada conduz à Vida. Trata-se de uma ascensão espiritual revelada por Cristo, que se apresenta como o próprio Caminho, a Verdade (entrada) e a Vida. Nele, o mistério do esconderijo do Altíssimo é desvendado, e a comunhão com Deus se torna uma realidade viva e contínua.

Creio que nem mesmo o salmista tenha experimentado, em sua totalidade, a realidade espiritual que estava transmitindo. Acredito, sim, que ele teve uma experiência genuína, mas de forma momentânea e limitada, pois o acesso pleno ainda não havia sido revelado. Aquilo que ele descreve com tanta beleza e profundidade aponta para uma dimensão que só se tornou plenamente acessível por meio da obra redentora de Cristo.

Essa é uma realidade espiritual já estabelecida, mas acessível apenas àqueles que entram por meio do sacrifício de Cristo e respondem ao convite do evangelho da paz. Ninguém pode alcançar essa dimensão de forma verdadeira, senão pela Porta das Ovelhas. Cristo é o único que pode nos conduzir ao lugar secreto. E é sob Ele, sob Sua autoridade e graça que acessamos "à sombra do Todo-Poderoso". Nessa sombra, somos completamente envolvidos por amor, perdão, salvação, descanso, paz e eternidade.

É nele que encontramos a plenitude do descanço, pois é Ele quem nos convida"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei." Mt 11:28.

O salmista não viu o Messias encarnado, não presenciou a obra da cruz, mas creu firmemente na promessa. Pela fé, ele pôde contemplar, ainda que parcialmente, essa realidade espiritual. No entanto, nós já vivemos sob a plenitude dessa revelação: tudo está consumado! O véu foi rasgado, o Caminho já está pavimentado, a Porta está aberta, e a Cruz tornou-se o nosso lugar de descanso, sob essa sombra sim, estamos seguros. O que antes era espectro e figura, agora é acesso real, uma comunhão viva com Deus por meio de Cristo. É a projeção de Cristo (à sombra) sobre nós que nos dá plena certeza do descanso e paz com Deus.

Esse é o convite do evangelho da paz. A reconciliação com Deus, a paz verdadeira que escede todo o entendimento, que só pode ser encontrada n'Ele. É um chamado para entrar enquanto a porta da graça ainda está aberta, acessível a todos os que creem. Enquanto essa porta permanece escancarada, há esperança, há perdão, há vida. Mas é preciso atender ao chamado, pois o tempo da graça não estará disponível para sempre.

Portanto, vinde e vede!
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O Senhor por meio dos enviados
Mensagens Estudos

O Senhor por meio dos enviados

Anselmo Lima por Anselmo Lima
06/11/2025
Há algo profundamente marcante na fé do centurião — uma fé prática, lúcida e surpreendente. É evidente, pelo relato, que ele havia ao menos ouvido falar de Jesus e de seus feitos. No entanto, o que realmente impressiona é como essa fé se manifesta a partir de sua própria experiência de vida e da forma como ele compreendia o mundo. É nesse ponto que começamos nossa jornada: explorando uma fé que nasce não apenas do ouvir, mas do discernir — e que, por isso mesmo, maravilhou o próprio Cristo.

Mt 8:5-10: Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião, rogando-lhe, e dizendo: Senhor, meu servo jaz em casa paralítico, horrivelmente atormentado. Disse-lhe Jesus: Eu irei, e o curarei. O centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; mas somente fala a palavra, e meu servo será curado. Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. Jesus, ouvindo isso, maravilhou-se, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que não encontrei tamanha fé, não, nem mesmo em Israel.

Este é um relato profundamente significativo, pois revela uma expressão de fé tão autêntica que deixou Jesus admirado — ou, por que não dizer, surpreso. Ele chegou a afirmar que nem mesmo em Israel encontrou fé tão grande, ou seja, nem entre os de seu próprio povo se viu uma demonstração tão prática e convicta como a do centurião.

Prática e eficiente — prática porque descreve de forma explícita uma realidade vivida pelo centurião. Como oficial do exército romano, ele comandava ao menos cem homens, prontos para obedecer a qualquer ordem que lhes fosse dada. Essa obediência não se devia apenas à sua autoridade direta, mas também ao entendimento de que o centurião estava subordinado a uma hierarquia superior. Desobedecê-lo significava, na prática, romper com toda a cadeia de comando.

Basicamente essa hierarquia acima do centurião era composta da seguinte forma:

Tribuno: Comandava uma coorte, que era composta por várias centúrias. 

Legado: Era o comandante supremo de toda a legião. 

Centurião-Chefe (Primus Pilus): O centurião mais antigo e de maior patente na legião, responsável pela primeira centúria da primeira coorte. Ele tinha um papel de liderança significativo e era muitas vezes visto como um "coronel" moderno. 

Hierarquia abaixo do centurião:

Optio: O segundo em comando de uma centúria, abaixo do centurião.

O texto o retrata como um centurião — alguém plenamente familiarizado com o ato de obedecer e com a responsabilidade de comandar. Ele compreendia profundamente o significado de estar sob autoridade, assim como o de exercer liderança sobre seus soldados. Os centuriões detinham grande poder e eram conhecidos por sua disciplina rigorosa. Cabia a eles o treinamento e a condução das tropas, transmitindo ordens de maneira clara, objetiva e inquestionável.

Se tivéssemos apenas o relato do evangelho de Mateus, já seria algo extraordinário. A mensagem estaria clara, e o ensino que o Espírito Santo deseja transmitir seria plenamente compreendido. No entanto, como se isso não bastasse, o mesmo episódio narrado no evangelho de Lucas amplia ainda mais a compreensão, oferecendo maior riqueza de detalhes e profundidade ao ensinamento.

Lc 7:2-10: E o servo de um certo centurião, o qual era muito estimado por ele, estava doente, e à morte. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo. E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isto, Porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado. E por isso nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. E, ouvindo isto Jesus, maravilhou-se dele, e voltando-se, disse à multidão que o seguia: Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé. E, voltando para casa os que foram enviados, acharam são o servo enfermo.

Percebemos que, no evangelho de Lucas, a narrativa é significativamente ampliada. Agora, o centurião não se dirige pessoalmente a Jesus, mas envia, em seu lugar, os “anciãos dos judeus”.

Sabemos que esses anciãos eram homens de autoridade e sabedoria, líderes respeitados na comunidade, responsáveis por representar os interesses das famílias e dos clãs. Seu papel envolvia a condução da vida comunitária, a mediação de conflitos, a tomada de decisões relevantes e o aconselhamento aos governantes.

O relato de Lucas é particularmente intrigante, pois apresenta uma aparente contradição e, ao mesmo tempo, um elemento profundamente impactante: os anciãos judeus, representantes do povo, vão até Jesus para interceder em favor de um romano — um centurião.

Vamos primeiro esclarecer o aspecto “impactante” e, em seguida, abordar a possível “controvérsia”. O gesto dos anciãos judeus ao se dirigirem até Jesus revela a profunda estima que o centurião havia conquistado. Essa consideração não surgiu por acaso, mas foi fruto do amor genuíno que ele demonstrava pelo povo e da sua iniciativa em construir a sinagoga — um ato que evidenciava respeito, generosidade e compromisso com a comunidade.

Para compreendermos a aparente controvérsia entre os relatos de Mateus e Lucas, é essencial mergulhar um pouco na cultura do mundo antigo. Naquela época, era comum que uma pessoa enviasse representantes ou mensageiros em seu nome, e esse ato era entendido como uma extensão da própria presença. Ou seja, quando alguém falava ou agia em nome de outro, era como se o próprio emissor estivesse ali, pessoalmente.

Nesse contexto, o evangelho de Mateus afirma que o centurião “foi” até Jesus, o que deve ser interpretado de forma representativa. Mateus está transmitindo a essência do encontro — a iniciativa e a fé do centurião — sem se prender aos detalhes logísticos. Já Lucas, por sua vez, oferece uma narrativa mais detalhada, revelando que o centurião enviou intermediários, especificamente os anciãos dos judeus, para falar com Jesus em seu lugar.

Esse tipo de representação era perfeitamente natural na linguagem judaica e greco-romana do século I. Um exemplo paralelo seria o de um embaixador que fala em nome de um rei: mesmo que o rei não esteja fisicamente presente, é comum dizer “o rei disse”, pois o embaixador carrega sua autoridade e intenção. Assim, não há contradição entre os dois evangelhos, mas sim uma diferença de estilo narrativo — Mateus foca no significado espiritual do gesto, enquanto Lucas detalha o protocolo cultural envolvido.

É justamente aqui que quero provocar sua reflexão.

O que o centurião compreendeu, fruto de sua vivência e experiência, foi algo tão profundo que deixou Jesus maravilhado — uma fé que Ele próprio chamou de tosoutos “tão grande” fé.

A compilação dos relatos de Mateus e Lucas nos revela uma verdade que o Espírito Santo deseja comunicar — uma verdade que o centurião discerniu com muita clareza, mas que ainda é pouco vivida pelos próprios cristãos. Ele entendeu, naquele contexto, que a autoridade espiritual não dependia da presença física de Jesus, mas da convicção no poder delegado. bastava o comando verbal de Jesus. Essa percepção, raramente experimentada com profundidade, tem implicações diretas na vida cristã, especialmente no exercício do serviço ao corpo.

Avancemos para uma compreensão mais dinâmica sobre o que significa sermos comandados por Cristo. 

Vejamos o que Ele declara em Lucas 10:16: “Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza; e quem me despreza, despreza aquele que me enviou.”

Esse versículo confirma a mesma perspectiva de autoridade delegada que vemos no episódio do centurião. Ao cumprirmos o ide — a missão que Jesus nos confiou — em Seu Nome e sob Sua autoridade, estamos agindo como representantes diretos do Rei. Assim como o centurião compreendeu que uma ordem dada em nome de uma autoridade superior carrega o peso dessa autoridade, nós também, ao obedecer e agir conforme a Palavra de Cristo, estamos dizendo com nossa vida: “Basta uma palavra, e será feito.”

A diferença é que, agora, o Verbo já foi pronunciado. O comando foi dado: “Vão e façam.” O que resta é a obediência ativa, fundamentada na fé e na convicção de que, ao falarmos e agirmos em nome de Jesus, o céu se move em resposta, pois não pode ser diferente.
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Não diga - "Não me julgue", antes de ler isso:
Reflexões Mensagens

Não diga - "Não me julgue", antes de ler isso:

Anselmo Lima por Anselmo Lima
03/11/2025
Tg 4:11: 
Não faleis mal dos outros, irmãos. Quem fala mal de seu irmão ou o julga, fala mal da Lei e julga-a. Ora, se julgas a Lei, não és cumpridor da Lei, mas sim, seu juiz.

À luz deste versículo, e considerando o contexto dos versículos anteriores, podemos compreender com mais clareza que o ato de "julgar" é frequentemente mal interpretado pelos cristãos. Versículos como este são comumente utilizados como forma de defesa diante de alguma correção, acusação ou apontamento relacionado a erros, condutas ou estilos de vida que outros irmãos em Cristo identificam e, movidos por amor, desejam orientar ou corrigir.

A ideia transmitida por esse texto não é a de alguém que está exortando ou corrigindo com amor e responsabilidade, mas sim de alguém que pratica a maledicência — falando mal de outra pessoa diante de terceiros, como em uma fofoca ou algo semelhante. Trata-se, portanto, de um julgamento leviano, feito de maneira imprópria, e não conforme o padrão das Escrituras, que orientam a correção fraterna de forma direta e respeitosa, "olho no olho, ombro a ombro".

De fato, alguém que compreendeu os versículos anteriores e experimentou o que significa humilhar-se diante de Deus — alguém que tem buscado purificar-se, afligir o próprio coração, como quem vive um luto acompanhado de choro em busca de rendição ao Senhor — não poderia continuar agindo da mesma forma, mantendo atitudes de maledicência contra o próximo. Essa conduta não condiz com a Vida de Cristo, pois quem foi tocado por essa verdade é transformado em seu modo de pensar, falar e agir.

Essa é uma realidade da vida cristã que precisa ser vivida de forma autêntica e profunda — não apenas compreendida intelectualmente ou limitada à razão.

O caminho para que essa experiência se torne verdadeira e transformadora está justamente nos ensinamentos: "Submetei-vos, pois, a Deus", "Aproximai-vos de Deus" e "Humilhai-vos diante do Senhor". É por meio dessa entrega que Ele nos exalta — elevando-nos, amadurecendo-nos e conduzindo-nos a uma vida abundante em graça.

Gostaria de fazer uma breve observação sobre o que entendo a respeito da expressão "Ele vos exaltará". Não creio que, no contexto dos versículos de Tiago, essa exaltação se refira a algo terreno — como bênçãos materiais ou conquistas no âmbito secular. Ao meu ver, trata-se de uma exaltação muito mais profunda e valiosa: uma elevação espiritual, uma ascensão às alturas da graça e da maturidade em Deus.

Essa exaltação está diretamente ligada ao resultado do processo descrito em Tiago 4:6-10 — um caminho de humildade, rendição e aproximação sincera do Senhor.
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