Salmo 91 (Verso 1)
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Salmo 91 (Verso 1)

Anselmo Lima por Anselmo Lima
08/11/2025
Salmo 91:1
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará.

Este salmo é um cântico que transmite confiança em Deus como nosso protetor. As expressões "esconderijo" e "à sombra" evocam um refúgio seguro, um lugar acolhedor onde encontramos paz e proteção.

É importante compreender que estamos lidando com uma linguagem antropomórfica, ou seja, o uso de termos humanos, tanto físicos quanto emocionais, para descrever Deus. Esse recurso tem como objetivo tornar a compreensão de Deus mais acessível aos leitores. Dito isso, precisamos aprofundar nosso entendimento sobre o que significa estar no esconderijo do Altíssimo e sob à sombra do Todo-Poderoso.

No texto original hebraico, a palavra usada para "esconderijo" é cether, que remete a um lugar secreto e protegido. Trata-se de um ambiente disponível, embora pouco conhecido, cuja principal característica é a segurança. Essa imagem também sugere a ideia de viver ali.

É justamente esse "viver ali" que o texto propõe ao afirmar: "aquele que habita". É como se o autor estivesse nos revelando que é possível habitar de forma real nesse lugar. Não se trata de um texto meramente alegórico ou poético, mas de um ensinamento sobre uma realidade espiritual concreta.

O ambiente que o salmista chama de "esconderijo do Altíssimo" revela não apenas um lugar de proteção, mas também nos apresenta uma segunda característica singular e profundamente espiritual: estar "à sombra do Todo-Poderoso". Essa expressão não se refere apenas a proximidade física, mas simboliza intimidade, cobertura e comunhão contínua com Deus. Estar à sombra do Todo-Poderoso é também desfrutar da segurança que emana da Sua Pessoa, um privilégio que só é possível para aqueles que habitam nesse lugar secreto. Trata-se de uma condição espiritual que transcende o entendimento humano e convida o crente a viver sob a influência direta do poder divino.

Embora muitos entendam que se trata da mesma coisa, apresentada com uma dualidade didática, não é assim que compreendo. A meu ver, são dois elementos de uma mesma realidade, ou seja, duas percepções distintas, porém interligadas. É como se estar "à sombra" fosse uma extensão natural de "habitar no esconderijo", revelando uma progressão dessa realidade espiritual.

Em outras palavras, "habitar no esconderijo" não significa, necessariamente, estar sob "à sombra". No entanto, estar sob "à sombra" é o resultado natural de habitar nesse lugar secreto. Uma analogia simples seria imaginar que Deus se aproxima desse ambiente e, ao fazê-lo, projeta Sua sombra sobre o salmista. Que é exatamente uma manifestação de Sua presença, cuidado, proteção e descanso.

Com base nessa compreensão, e à luz do Novo Testamento, podemos vislumbrar com mais precisão o que Cristo quis ensinar ao dizer:

Jo 17:20-21: "E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste."

Agora, esse lugar secreto é plenamente revelado por meio da cruz de Cristo, tornando-se acessível àqueles que atendem ao chamado. Esse Caminho conduz à Entrada, e a Entrada conduz à Vida. Trata-se de uma ascensão espiritual revelada por Cristo, que se apresenta como o próprio Caminho, a Verdade (entrada) e a Vida. Nele, o mistério do esconderijo do Altíssimo é desvendado, e a comunhão com Deus se torna uma realidade viva e contínua.

Creio que nem mesmo o salmista tenha experimentado, em sua totalidade, a realidade espiritual que estava transmitindo. Acredito, sim, que ele teve uma experiência genuína, mas de forma momentânea e limitada, pois o acesso pleno ainda não havia sido revelado. Aquilo que ele descreve com tanta beleza e profundidade aponta para uma dimensão que só se tornou plenamente acessível por meio da obra redentora de Cristo.

Essa é uma realidade espiritual já estabelecida, mas acessível apenas àqueles que entram por meio do sacrifício de Cristo e respondem ao convite do evangelho da paz. Ninguém pode alcançar essa dimensão de forma verdadeira, senão pela Porta das Ovelhas. Cristo é o único que pode nos conduzir ao lugar secreto. E é sob Ele, sob Sua autoridade e graça que acessamos "à sombra do Todo-Poderoso". Nessa sombra, somos completamente envolvidos por amor, perdão, salvação, descanso, paz e eternidade.

É nele que encontramos a plenitude do descanço, pois é Ele quem nos convida"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei." Mt 11:28.

O salmista não viu o Messias encarnado, não presenciou a obra da cruz, mas creu firmemente na promessa. Pela fé, ele pôde contemplar, ainda que parcialmente, essa realidade espiritual. No entanto, nós já vivemos sob a plenitude dessa revelação: tudo está consumado! O véu foi rasgado, o Caminho já está pavimentado, a Porta está aberta, e a Cruz tornou-se o nosso lugar de descanso, sob essa sombra sim, estamos seguros. O que antes era espectro e figura, agora é acesso real, uma comunhão viva com Deus por meio de Cristo. É a projeção de Cristo (à sombra) sobre nós que nos dá plena certeza do descanso e paz com Deus.

Esse é o convite do evangelho da paz. A reconciliação com Deus, a paz verdadeira que escede todo o entendimento, que só pode ser encontrada n'Ele. É um chamado para entrar enquanto a porta da graça ainda está aberta, acessível a todos os que creem. Enquanto essa porta permanece escancarada, há esperança, há perdão, há vida. Mas é preciso atender ao chamado, pois o tempo da graça não estará disponível para sempre.

Portanto, vinde e vede!
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Entre vós não será assim
Reflexões

Entre vós não será assim

Anselmo Lima por Anselmo Lima
07/11/2025
Lc 22:27-28: "Pois qual é maior, quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vós como quem serve. Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações;"

A riqueza desta passagem é realmente extraordinária. Tão necessária para a compreensão em nossos dias quanto foi para os ouvidos daqueles discípulos. Podemos perceber claramente o princípio da humildade e o coração do Senhor em servir, ensinando de forma tácita aos seus discípulos a fazerem o mesmo. Ele, sendo aquele que estava à mesa. O único verdadeiramente digno de ser servido, se coloca como quem serve, abrindo mão de seu direito para ser o maior exemplo da humildade. 

Exercendo o papel de genuíno mestre. Sem hipocrisia, imposição ou falsidade, mas da forma mais didática possível: pelo exercício da prática e da observação. Foi justamente o que ele ensinou anteriormente, ao dizer: 

Mt 20:27-28: "e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos."

Jesus conhecia a inclinação humana de seus discípulos, marcada pela mentalidade comum de buscar ser o melhor, o primeiro, de ser reconhecido como destaque e até como um prodígio.

Nos tempos de Jesus, o sistema de ensino rabínico baseava-se em uma relação pessoal entre mestre e discípulo. O discípulo não apenas aprendia palavras, mas buscava imitar a vida, os costumes e o caráter do mestre. O objetivo final era tornar-se como o mestre, ou até como possível sucessor. Nesse contexto, é possível perceber que havia diferentes níveis de prestígio entre os discípulos. Alguns eram mais próximos e confiáveis, outros se destacavam por sua capacidade de interpretar a Torá, e havia ainda aqueles que se tornavam futuros mestres reconhecidos, perpetuando o ensinamento de seu rabi.

A cultura judaica do período valorizava muito a honra pública e o status religioso. Os fariseus, por exemplo, gostavam de “...os primeiros lugares nas sinagogas e as saudações nas praças, e de serem chamados ‘Rabi’ pelos homens.” Mateus 23:6-7."

Havia, portanto, uma busca natural por reconhecimento, especialmente entre aqueles que almejavam tornar-se mestres ou líderes espirituais. O problema não estava no reconhecimento em si, mas na motivação que o impulsionava. Porém, essa nunca foi a proposta do Senhor Jesus. Na verdade, parece que Ele caminhava na contramão do modelo tradicional de ensino dos mestres. Há situações em que a narrativa confronta os ensinamentos de Jesus com a conduta de seus discípulos, colocando ambos em xeque.

Seus discípulos não lavavam as mãos de forma cerimonial, não jejuavam, não guardavam literalmente o sábado, não permaneciam em um lugar fixo e, talvez o mais significativo de tudo, não escolhiam o mestre. Foi Jesus quem os escolheu!

Chegamos aqui a um ponto-chave. Ao afirmar isso, avançamos para o versículo 28: "Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações." Essa declaração de Jesus lança luz sobre o aspecto dos seus amigos mais próximos, os doze, aqueles que Ele de fato chamou para o apostolado.

Ao dizer: "Mas vós sois os que tendes permanecido comigo", Jesus nos transmite, de forma implícita, a ideia de que outros, ou melhor, muitos outros, não permaneceram com Ele, pelo menos não de maneira tão próxima.

"Joao 6:66 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele."

Somente aqueles que permanecem caminhando com o Senhor, mesmo após enfrentarem altos e baixos, mesmo depois de traí-lo, abandoná-lo ou até se escandalizarem, são os que, com o tempo, alcançam o amadurecimento real. Esse crescimento não vem da perfeição, mas da persistência em voltar, aprender, se arrepender e continuar seguindo, mesmo quando tudo parece contrário.

Para alguns, a maior dificuldade está em lavar os pés de outros, pois isso exige humildade, disposição para servir e renúncia ao orgulho. Para outros, o desafio está em se deixar lavar, em aceitar ser cuidado, em se permitir ser vulnerável diante de outro irmão. Há quem sinta um desconforto profundo ao se sujeitar a alguém, como se isso ferisse sua autonomia ou identidade. E há também aqueles que, ao se verem sob autoridade de outro, carregam esse lugar como um encargo sofrido, uma experiência que exige quebrantamento e confiança na condução de Deus.

Essas coisas ficam claras quando Jesus sinaliza a Pedro que Satanás pediu para peneirar não apenas ele, mas a todos. No entanto, Jesus destaca que intercedeu especificamente por Pedro, dizendo: "Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça." Isso é ainda mais impactante quando lembramos que Pedro negaria Jesus três vezes, mesmo após prometer fidelidade. E, mesmo assim, Jesus não o rejeita. Pelo contrário, Ele afirma: "E tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos." Essa fala revela não apenas a queda de Pedro, mas também a esperança de restauração e o chamado para liderar com humildade e graça. Pedro, mesmo negando, foi colocado para ser um instrumento de fortalecimento entre os demais.

Obviamente, não como o maior, o melhor, o mais brilhante ou o mais perfeito, mas como aquele que caiu, se arrependeu e foi levantado. Alguém que, de fato, se converteu e, por isso, está apto a servir aos outros e a Cristo. Sua autoridade não nasce da superioridade, mas da experiência da graça, da restauração e do compromisso renovado com o Senhor. Com esse exemplo, Pedro se tornou uma referência para muitos outros. Inclusive para mim e para você. Sua trajetória revela que não é a ausência de falhas que define um discípulo, mas a disposição de se arrepender, ser restaurado e seguir servindo com humildade.

Que o Senhor nos conduza pelo caminho da verdadeira humildade, aquela que agrada ao Pai, porque nasce do próprio coração dEle. Não é fruto de esforço humano, mas expressão da natureza divina em nós, moldada pela graça e pelo Espírito.

 
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DO CONFRONTO À LIBERTAÇÃO
Reflexões

DO CONFRONTO À LIBERTAÇÃO

Anselmo Lima por Anselmo Lima
06/11/2025
Jo 16:8: E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.

No original grego, a palavra traduzida como "convencer" carrega em sua raiz a ideia de uma exposição direta e incisiva — como alguém que aponta uma lança para evidenciar o erro e suas consequências, com o propósito claro de promover correção.

Uma pessoa só se dá conta da terrível escuridão espiritual em que vive (sua condição natural), quando Deus, de forma sobrenatural, lhe mostra a verdade. Nesse contexto, o Espírito Santo não convence como um mero acusador, mas como aquele que revela o que está encoberto pela cegueira — trazendo luz, discernimento e caminho de restauração. 

Enquanto a acusação deliberada traz consigo o peso perverso da condenação, a ação do Espírito se distingue pela clareza que revela, pelo confronto que transforma e pela verdade que conduz à libertação — muitas vezes evidenciada pelas próprias consequências da desobediência.

Por isso, torna-se evidente a centralidade da ministração da Palavra de Deus, pois é por meio da proclamação do evangelho e suas nuances que essa obra sobrenatural se realiza. É através do Evangelho que a verdade é revelada, os olhos são abertos e os corações são transformados.

Seja pela pregação ou pelo testemunho silencioso da vida e conduta de outros cristãos, o Espírito Santo continua a convencer — expondo corações à verdade. Uma vida moldada pelos ensinamentos de Cristo, revelada no falar, no agir e nas escolhas que refletem o evangelho, torna-se instrumento vivo por meio do qual o Espírito alcança aqueles que ainda não creem.

É importante compreender que, embora eu tenha aplicado o texto de forma mais individual, sua mensagem aponta para algo muito mais abrangente: uma ação do Espírito Santo por meio do corpo de Cristo. 

A Igreja, como expressão visível dessa ação, é chamada a ser instrumento ativo na revelação da verdade — denunciando, com graça e firmeza, a realidade de um mundo que se deleita no pecado, carece de justiça por rejeitar a soberania de Deus, e caminha rumo ao juízo. É por meio da Igreja de Cristo que o Espírito Santo revela, de forma direta e impactante, a verdadeira condição do mundo diante de Deus. Nesse sentido, a Igreja não é apenas uma comunidade de fé, mas um instrumento sobrenatural — um canal vivo por meio do qual o Espírito evidencia a rejeição do mundo à soberania divina. 

Ao proclamar a verdade do evangelho e viver segundo os padrões do Reino, a Igreja confronta o sistema que se opõe a Deus, denunciando o pecado, a ausência de justiça e a inevitabilidade do juízo. Sua presença no mundo é um testemunho contínuo da luz que expõe as trevas e do amor que chama ao arrependimento.
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Não diga - "Não me julgue", antes de ler isso:
Reflexões Mensagens

Não diga - "Não me julgue", antes de ler isso:

Anselmo Lima por Anselmo Lima
03/11/2025
Tg 4:11: 
Não faleis mal dos outros, irmãos. Quem fala mal de seu irmão ou o julga, fala mal da Lei e julga-a. Ora, se julgas a Lei, não és cumpridor da Lei, mas sim, seu juiz.

À luz deste versículo, e considerando o contexto dos versículos anteriores, podemos compreender com mais clareza que o ato de "julgar" é frequentemente mal interpretado pelos cristãos. Versículos como este são comumente utilizados como forma de defesa diante de alguma correção, acusação ou apontamento relacionado a erros, condutas ou estilos de vida que outros irmãos em Cristo identificam e, movidos por amor, desejam orientar ou corrigir.

A ideia transmitida por esse texto não é a de alguém que está exortando ou corrigindo com amor e responsabilidade, mas sim de alguém que pratica a maledicência — falando mal de outra pessoa diante de terceiros, como em uma fofoca ou algo semelhante. Trata-se, portanto, de um julgamento leviano, feito de maneira imprópria, e não conforme o padrão das Escrituras, que orientam a correção fraterna de forma direta e respeitosa, "olho no olho, ombro a ombro".

De fato, alguém que compreendeu os versículos anteriores e experimentou o que significa humilhar-se diante de Deus — alguém que tem buscado purificar-se, afligir o próprio coração, como quem vive um luto acompanhado de choro em busca de rendição ao Senhor — não poderia continuar agindo da mesma forma, mantendo atitudes de maledicência contra o próximo. Essa conduta não condiz com a Vida de Cristo, pois quem foi tocado por essa verdade é transformado em seu modo de pensar, falar e agir.

Essa é uma realidade da vida cristã que precisa ser vivida de forma autêntica e profunda — não apenas compreendida intelectualmente ou limitada à razão.

O caminho para que essa experiência se torne verdadeira e transformadora está justamente nos ensinamentos: "Submetei-vos, pois, a Deus", "Aproximai-vos de Deus" e "Humilhai-vos diante do Senhor". É por meio dessa entrega que Ele nos exalta — elevando-nos, amadurecendo-nos e conduzindo-nos a uma vida abundante em graça.

Gostaria de fazer uma breve observação sobre o que entendo a respeito da expressão "Ele vos exaltará". Não creio que, no contexto dos versículos de Tiago, essa exaltação se refira a algo terreno — como bênçãos materiais ou conquistas no âmbito secular. Ao meu ver, trata-se de uma exaltação muito mais profunda e valiosa: uma elevação espiritual, uma ascensão às alturas da graça e da maturidade em Deus.

Essa exaltação está diretamente ligada ao resultado do processo descrito em Tiago 4:6-10 — um caminho de humildade, rendição e aproximação sincera do Senhor.
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